19 setembro 2005

S.Jorge

T. era paquete camarário. Cruzava a cidade em demandas requeridas pelo seu ofício e era, por benesses de horário, sempre o primeiro a chegar ao nosso religioso encontro pós laboral de fim de dia, num dos cafés do Marquês de Pombal. Por ser o único que trabalhava na Baixa de Lisboa, T. era o nosso informador preferido das estreias cinematográficas da semana e era da boca dele que sabíamos dos filmes em exibição no Condes ou no S.Jorge. Não que T. fosse um cinéfilo assumido, mas pelo simples facto do autocarro que apanhava de regresso a casa passar perto dessas salas e na época ser absolutamente normal que se expusessem nas fachadas os cartazes gigantescos que detalhavam cenas, prémios ou nomeações. Durante meses T. foi não só o informador, mas também o crítico de serviço e isto tudo apenas baseado nas fugazes observações dos cartazes. Em semanas de sorte e se o autocarro se detivesse nas filas de trânsito da avenida da Liberdade podia até dar-se o caso (raro) de T. tomar nota dos nomes das estrelas do filme para podermos à volta da bica da tarde ou da noite decidir das nossas preferências da semana. Mas um dia houve que ficou célebre para sempre.

-"Malta, está um grande filme no S.Jorge!" Perguntei como se chamava. "Tem um nome estranho..." Sim, está bem, mas sabes com quem é? "Jack Nicholson!". Porreiro, e como é que se chama?
"Doze Óscares voando sob um ninho de cucos".

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