05 janeiro 2006

Das lendas e das capoeiras

Os arguidos eram dois, a fama precedia-os na rapinagem de capoeira e o povo, sempre o povo na ânsia de filar os ratos que pilhavam bicos e restante criação, bem sabia quem eram, como actuavam e por mais de uma vez tinham feito justiça pelas próprias asas, que as mãos essas, eram quase sempre ágeis no afagar de patos, coelhos, galinhas, o que viesse à rede haveria de passar essa mesma rede para o lado de fora e consequentemente para o lado de dentro embora já deglutidos. Uma vez houve em que dois de conluio tiveram o seu dia de azar, um dia da caça, outro do caçador, veio a Guarda e tomou conta da ocorrência como é da praxis, identificando os assaltantes e abrindo mais uma página no longuíssimo livro de história universal do furto qualificado.

Sendo que assuntos de lana caprina (manifesta injustiça será apelidá-los assim quase se fala de bípedes) raramente chegam às varas dos tribunais sendo que o povo, sempre o povo, preferiria de caras usar as varas nos costados dos visados, inocentes ou não, mas coisa certa é que desta vez o roubado não desistiu da demanda e quis levar a coisa até final, mesmo que ali, naquele caso que agora me recordaram a súmula era de doze galinhas e quatro patos que só não levaram descaminho porque como sabemos, veio a Guarda, o coelhinho e o circo, só não consta que os tenham comido.

Fazia-se então a sessão final do julgamento, os réus sentados no lugar competente, os advogados a trocar mesuras, peço justiça e vamos lá acabar com isto que tijolos mais belos haverá para assentar no edifício da justiça. O juiz pigarreou que é uma coisa que não é preciso ser-se magistrado para fazer, eu mesmo quando comecei a teclar assim como que pigarreei com os dedos, por forma a melhor escrever, e terá sido bem claro na lista dos quesitos provados e por provar. Ergueu os olhos do douto papel lavrado. Tomou ar como quem empurra o carro pelos últimos metros da ladeira e terá dito com voz tonitruante: "E aos réus darei as penas...".

Rezam as lendas que o mais novo, que sempre clamara a respectiva inocência no processo, levantou também os olhos e disse "Dê-me Vossa Excelência a mim as penas que outros terão comido as galinhas!". É verdadeiramente lamentável (uma verdadeira pena!) que destas historietas nunca se cheguem a saber os finais. Uma injustiça!

2 comentários:

Anónimo disse...

"...raramente chegam às varas dos tribunais sendo que o povo, sempre o povo, preferiria de caras usar as varas nos costados dos visados,..." como se de varas de porcos se trata-se.
Digo eu.

Anónimo disse...

de porcos? as dos tribunais ou as que deveriam ser usadas nos costados dos visados? :)