O cenário é diferente. Estou num talho. Um talho com imenso movimento, um balcão carregado de pessoas do lado de fora e outro tanto do lado de dentro. Sucedem-se as idas e vindas dos cortadores de carne, carregados de bifes, pás, pojadouros, alcatras e muitas outras peças que para mim são autênticos mistérios bovinos. Não me importo sequer de ter seis pessoas à minha frente, empunho a minha senha verde enquanto absorvo lições de uso de carnes através dos pedidos de clientes. O velhote que pede bifes sem nervos para ir fazer o almoço ao neto. A dona de casa com ar impaciente que indica escrupulosamente quantos cortes quer na peça de entrecosto ou que impõe ao cortador a obrigatoriedade de retirar os pescoços de galinha de uma embalagem de miúdos. O operário da construção civil que pergunta se há carne para guisar. Vou aprendendo algo, vou evoluindo a minha cultura gastronómica. Dedico a minha atenção a uma simpática velhinha que quer saber tudo sobre cabeças de borrego. Se são grandes, se não são demasiado pequenas. Se têm peles, se têm olhos, se... O cortador, com um sorriso nos lábios a tudo acede e a tudo responde. Não parece ser suficiente. Ela pede para ver de perto a espalmada ovina cabeça e é convidada a contornar o enorme balcão de vidro para "vir conversar com a cabeça de borrego". "Fale com ela, esteja à vontade, quando forem amigos diga-me para eu a pesar...". A velhinha parece observar com especial atenção aquilo que em tempos foram as orelhas do borrego e que agora não passam de dois buracos ensanguentados.
"Sabe se este borrego tem os bichos no ouvido?". O espanto é geral, mesmo nos talhantes que divertidos rodeiam a senhora. "É que eu ouvi no programa do Goucha que crescem uns bichinhos nos ouvidos dos borregos e tenho medo...". O cortador tenta esconder-se por detrás da balança para se poder rir sem embaraçar a velhinha. Faz um ar sério e diz em tom grave: "Minha senhora, é verdade sim, mas apenas os borregos com dois anos e um mês é que têm os bichinhos e esse não teve tempo de os criar.". Há um sorriso na face de todos os presentes. "Mas há quem leve com bichos porque dizem que dá mais sabor...". A velhinha está absolutamente horrorizada e indecisa quanto à cabeça de borrego. Chega a minha vez, decido entrar na brincadeira e peço um Kg. bem aviado de "bichinhos de ouvido de borrego". Pago dirijo-me à saída. Cruzo-me com a velhinha que não comprou a cabeça de borrego, mas que me espera, curiosa. "O senhor desculpe, mas como é que cozinha os bichos?".
"Sabe se este borrego tem os bichos no ouvido?". O espanto é geral, mesmo nos talhantes que divertidos rodeiam a senhora. "É que eu ouvi no programa do Goucha que crescem uns bichinhos nos ouvidos dos borregos e tenho medo...". O cortador tenta esconder-se por detrás da balança para se poder rir sem embaraçar a velhinha. Faz um ar sério e diz em tom grave: "Minha senhora, é verdade sim, mas apenas os borregos com dois anos e um mês é que têm os bichinhos e esse não teve tempo de os criar.". Há um sorriso na face de todos os presentes. "Mas há quem leve com bichos porque dizem que dá mais sabor...". A velhinha está absolutamente horrorizada e indecisa quanto à cabeça de borrego. Chega a minha vez, decido entrar na brincadeira e peço um Kg. bem aviado de "bichinhos de ouvido de borrego". Pago dirijo-me à saída. Cruzo-me com a velhinha que não comprou a cabeça de borrego, mas que me espera, curiosa. "O senhor desculpe, mas como é que cozinha os bichos?".
1 comentário:
E vinham mesmo bem pesados?
É que se não é melhor ir fazer queixa no programa do Goucha.
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