09 março 2006

Um homem como todos os outros

Aprendi, ao longo dos últimos anos a gostar da pessoa de Jorge Sampaio. Porque o conheci em matérias de trabalho, estava ele a chegar à Câmara Municipal de Lisboa, logo apreciei (e agradeci) a sua informalidade e facílimo trato. Numa cerimónia pública, de apresentação de vários projectos camarários, num pavilhão de temperatura escaldante, um ambiente horrível pejado de gente, eu tinha de fazer uma demonstração de um produto que era ainda pouco mais que um projecto inexistente na altura em forma de software, coisa que me muito me constrangia. Ele sabia disso, mas as agendas são compostas por assessores e a entourage camarária pedira-me por tudo que aquilo fosse feito, eram apenas uns minutos. Quando entrou na sala e me cumprimentou, lembrou-se que dois dias antes eu lhe tinha pedido que aquela espécie de encenação para "inglês ver" não fosse feita. Apertou-me a mão e em surdina, sorrindo, disse-me "Isto vão ser apenas dois ou três minutos, faça de conta que o programa funciona, mas acima de tudo eu vou fazer de conta de que percebo alguma coisa do assunto...". Quando, quase um ano mais tarde lhe mandei uma mensagem dizendo que o projecto estava instalado e era, salvo melhor opinião, um êxito, ele parecia estar muito melhor informado. Para todos os efeitos, aquele era um homem nada dado à informática. Reencontrámo-nos, muitos anos mais tarde, no Pavilhão das Nações Unidas da Expo 98 quando percebi que Sampaio se interessara pelas suaves formas de um Mac 20th Anniversary. "Ah, mas este é muito mais bonito! Mas continuo sem saber muito disto, o melhor é serem vocês a mexer...". Foi este homem que me encheu de orgulho quando num debate na CNN, remeteu aos seus tamanquinhos um diplomata indonésio, foi este homem que me fez emocionar quando ele mesmo se emocionava com coisas simples e comezinhas. Como foi o caso das duas crianças em risco de exclusão escolar que há anos Sampaio impediu que fossem afastadas de um percurso educativo dito normal e que hoje são duas profissionais. O homem que mandou calar os manifestantes que à sua janela o aplaudiam, porque era tarde e os vizinhos iam ficar aborrecidos. Ou de uma vez que na estação do Metro da Gare do Oriente, expliquei a um iraniano que ia comigo que no fundo da carruagem, viajava em traje de jogging acompanhado pelo seu filho, o Presidente da República Portuguesa. Um homem como os outros, de quem me orgulho enquanto concidadão.

1 comentário:

JVC disse...

Uma outra pequena história. Qundo eu era director do IHMT, prtendi fazer uma homenagem ao seu pai, Arnaldo Sampio, figura distinta que o instituto tinha tratado mal. Pediu-me para não o fazer, porque era difícil que apenas vissem o filho na homenagem e não o PR. Que o fizesse depois do seu mandato. Infelizmente, já não estou em condições decorresponder a este seu desejo.