29 março 2006

Walk like an egiptian

C. é um velho algarvio cuja pele tisnada pelo sol faz lembrar um pergaminho amarfanhado de complexa leitura. Desloca-se vagarosamente com a ajuda de uma bengala em nogueira que faz também ela lembrar o ceptro majestático de um imperador africano. A maior paixão que lhe conheço, o seu Sporting, fá-lo permanecer à mesa do café em todos os jogos que o seu clube dispute, mesmo em modalidades aborrecidas ou menos populares. É uma paixão silenciosa. C. sofre calado (como aliás me quer parecer que fez durante toda a sua vida e não apenas em matérias futebolísticas) e nunca lhe ouvi um grito, uma imprecação, um gesto de enfado. É um verdadeiro gentleman de taberna e finaliza sempre as suas sessões de visualização desportiva com uma pérola de filosofia popular. Foi o que sucedeu ontem depois do Benfica-Barcelona. Erguendo-se a custo, puxando para si a bengala de nogueira envernizada, ditou: "Nem uns perderem, nem outros ganharem, empatarem-se!".

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