13 agosto 2006

Estala a bomba e o foguete vai no ar

Nado e criado no mais arreigado uso das tradições populares portuguesas, aqui o escriba está desde há anos habituado ao uso de manifestações tradicionais mais ou menos peculiares. Uma delas, que eu não entendo de forma alguma é o uso de foguetes em festividades de vária ordem. Eu suponho que o indígena ouve o ribombar de um foguete e rejubila de alegria, escuta-se o fragor de um morteiro e a maltosa sai para a rua aos saltos gritando "Alegria, Alegria!". Com excepção dos foguetes que ouvia quando trabalhava ali para os lados da Pontinha, que tinham um significado muito próprio, o do avisar da clientela da chegada de mais um carregamento de droga vendável, qual é de facto o significado prático de uma dúzia de estrondos capazes de matar do coração metade dos doentes cardíacos portugueses? Como é que é possível um tipo ficar feliz quando acorda estremunhado devido a uma morteirada às oito da manhã, com todos os cães da casa a procurar refúgio no meu colo (um dia destes discutiremos porque é que só os homens é que têm colo - as senhoras têm regaço), em estado de pânico puro? Carago! Eu sei que há festa, foi para isso que engalanaram as ruas e espalharam cartazes. Aquela morteirada matinal (eles chamam-lhe Alvorada e eu nem quero imaginar a que lindas horas se levanta o fogueteiro para estar felícissimo às oito da manhã a fazer tremer os alicerces da aldeia) significa "Sejam alegres" mas dito aos gritos? Ou é apenas a alegria da Comissão de Festas a dizer aos residentes "Agora e que vocês vão perceber onde é que gastámos o dinheiro!"? E no final da procissão da Senhora do Rosário, tinham mesmo de fazer explodir seiscentos e quarenta e dois foguetes? Pensais por acaso que a Senhora do Rosário não recolheria à igreja sem aquele número inusitado de estouros? A santa passou duas horas ao sol, quem ia debaixo do pálio era o prior, desertinha deve ela estar por voltar ao fresco do templo. E era MESMO preciso mais um morteiro depois dos seiscentos e quarenta e dois foguetes? Assim como quem diz, "Pronto, já chega, este é o último"? É nestas alturas que eu penso naquele hábito árabe de agarrar numa Kalashnikov e descarregar um carregador inteirinho para o ar. Se este hábito pegasse em Portugal, nós faríamos exactamente o mesmo, mas no final, quando se acabassem as balas, ainda dávamos mais um tiro de obus, assim como que para sublinhar o efeito...

13 comentários:

Anónimo disse...

Acredita que há pior...

De entre as muitas coisas boas de se viver em Tibaldinho, uma das mais caricatas é a de ser vizinho de uma aldeia que dá pelo nome de Lobelhe do Mato (até tem um Blog: http://lobelhe.blogspot.com/).

Pois bem, não é que estes senhores acham que para manifestação de alegria não basta ser acordado às 08:00 da matina com um magnífica alvorada de morteiros... Para eles, o êxtase, o nirvana, é contratar um bando (serão aí uns 50, mais coisa menos coisa) de "Zés Pereira" que, pasme-se, entre as 23:00 horas de sábado e as 08:00 de Domingo, no dia da Festa, circulam pelas ruas da aldeia, ribombando a cada meia hora... É de doidos!

Agora imagina a minha cara, na primeira vez que presenciei isto... Aí pelas 03:00 acordei, e julguei que vinham aí as invasões francesas ;D

Claro que percebi logo por que razão os de Tibaldinho chamam os outros pela carinhosa alcunha "os tolinhos de Lobelhe"...

Anónimo disse...

Ah, eu ganho-vos! A isso, com excepção dos bombos e bandas que são durante o dia, há que juntar os altifalantes da igreja, os da comissão de festas, o megafone da quermesse e as buzinas dos carros que insistem em ir embora ainda a festa vai a meio. De bónus (para os lados de Castelo Branco!) juntem o calor, a poeira e as moscas. O inferno de Dante devia incorporar um sítio destes.

Pedro Aniceto disse...

As kermesses trazem-me boas recordações. Sendo certo que foi no bom tempo (três rifas cinco tostões), da última vez que encontrei uma, precisamente aqui no Rosário, decidi investir. Devia ter olhado primeiro para as prateleiras, certo é que desembrulhei todos os papelinhos que me couberam na açafata na secreta esperança de que nada me saísse de tão lindos que eram os prémios...

Pedro Aniceto disse...

Dúvida existencial: Ou são Kermesses ou Quermesses. Homesse!

Pedro Aniceto disse...

Bombos toda a noite? De meia em meia hora? Fosga-se!

Anónimo disse...

É Quermesse, sim senhor.
Mas o interesse nas ditas raramente estava nos prémios. O que interessva era conseguir ser 'atendido' pela tal 'vendedora' de rifas.

Anónimo disse...

E na escola nunca tiveste uma quermesse; desculpa: um bazar onde as colegas rifavam beijos? Que acabou quando o Director se apercebeu que havia uns privilegiados que tinham sempre prémio, mesmo sem comprar rifa?
Não tenho boas recordações dos bazares.

Frederico Lucas disse...

Eu, por terras de Bandarra, apanhei com a missa durante uma sessão de "carinhos matinais".
Contei a toda a gente e o Padre retirou o sistema das ruas: O conhecimento de que a sua voz serviria de "pano de fundo" para as mais diversas aventuras sexuais tê-lo-á incomodado.

Quanto ao foguetório também não é complicado: Bem no centro da festa, um conjunto de maduros a exclamar "ah!" a cada estoiro deixará a comissão de festas convencida de que não festa como aquela.
Pelo caminho ganham vergonha.

Anónimo disse...

Convido qualquer um a passar um fim de semana no quarteirão onde resido.
Sabem certamente o que é "forró" e "chorinho" e "musica do Pantaná" e do "sertão" e não sei das quantas Camargo.... não sei quê e Marrone e Lucas e Mateus e... (Marrone e Camargo não eram apóstolos, pois não?)
Enfim é uma panóplia de ruídos entoados por nomes que atrás referi...e que cheira invariavelmente a Carnaval (mas o Carnaval não é só em Fevereiro ou Março?) (e não se costuma dizer que a vida são 2 dias e o Carnaval são 3?) Então porque é que aquela gente não cumpre o ditado????

quem quizer, o espectáculo abre aos sábados por volta das 21,30h e encerra aos domingos por volta das 23,45h.

SÓ NÃO HÁ É FOGUETES,,,

Va lá uma criatura dizer que está bem!!!!

Anónimo disse...

Eu gostava muito de quermesses até há 1 mês atrás quando, perto de Arganil, por uma mísera quantia de 50 centimos, fui presenteada com um belissimo Rolo de Papel Higiénico. À pessoa que me acompanhava, "tocou-lhe" um vistoso par de sapatos de senhora, usados duas ou três vezes, mas com uma particularidade, eram cor-de- rosa choque. Foi lindo. EU ADORAVA QUERMESSES.

A Dias disse...

E o UGA? E as largadas?

A Dias disse...

Nasci em Alhos Vedros. Casei fui morar para a Moita. Felizmente já regressei à terra natal. Na minha opinião o Rosário comparado com a Moita é uma brincadeira de crianças. A Moita tem no mínimo 4 vezes: mais foguetes, mais bêbados, mais largadas, mais pó, que se vê a olho nu quem desce do Modelo, Zés Pereiras etc. E o mais típico? A largada diária de 4 ou 5 touros à entrada da vila que percorrem aí uns 500m pelas ruas, e que passam a 1 m das portas das casas e lojas?
Tudo isto e muito mais e só a 3 Km do Rosário.
Só não tem é o UGA e as largadas não são na praia!

Dores disse...

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