"Mas é que não gostê mêmo nada da cara do mê Tóino!". Ouvida assim, a seco, poderia o incauto espectador da cena que há-de vir, pensar nas maleitas que afectariam um qualquer António, mas não, desengane-se o dito espectador, pode inclusivamente tirar o cavalinho da chuva não vá o equídeo apanhar uma valente insolação que o tempo não está para outra coisa. De desidratação não sofrerá quem proferiu tão intrigante sentença, a de não gostar nada da cara do seu António, já que está com cara de e (atente o leitor nos jogos florais do "de" e do "e" que isto deu muito trabalho e não quereria o narrador que se pensasse ser uma inglória gralha...) poucos amigos, até porque está sozinho com a proeminente barriga cofiando o marmóreo balcão, que já se disse estar calor e sempre se lucra algum fresco no exterior das flácidas carnes. No exterior sim, porque o interior vai sendo regado a jorros e jarros de cerveja. Que se passa hombre, pergunto-lhe eu, nada habituado a ver caras tão fechadas no corpo de P., profissional da construção civil, ramo muito dado a desgostos financeiros e barrigas de malte e lúpulo. "Não gostê mêmo nada da cara do mê Tóino!", coisa que eu já sabia e que me fez ligar os sentidos do registo oral. "Fui ali pedir ao empreiteiro que me pagasse...". Assenti que justo seria. Já acabaste o trabalho? "Já. Cento e noventa metros quadrados de alcatifa inífúga, andei lá dois dias mais o servente". Ignífuga, queres tu dizer. "Sim, isso, inífuga". E não te pagou? "Não, franziu o nariz e disse que não podia". Compreendo. "Compreendes, o tanas! Não foste tu que lá andaste dois dias de cú para o ar, com os rinzes arrebentados!". Compreendo, no entanto não lho digo, apenas penso. Costumas assentar muita alcatifa dessa? O que é que é a obra? "É um infantário, aqueles rolos devem ter algo de especial porque são caros como tudo e se ela é difícil de cortar." E ele paga-te? "Que remédio tem ele, não se fica a rir. Não pagando, rego com gasolina e pego fogo aquilo tudo! Que eu seja ceguinho!"
11 agosto 2006
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1 comentário:
O calor faz-te bem... Brilhante!
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