25 dezembro 2006

Nightmare, twenty minutes before Christmas


Cumpre-me informar que a imagem acima esconde no negrume da sua aparência o pesado volume de um camião de bombeiros. Cumpre-me avisar o desavisado leitor que já tenho idade mais do que suficiente para, numa noite de Natal, não ter, mesmo nos meus pedidos mais ousados, desejado ter tal brinquedo, seja em miniatura ou tamanho real, e que nunca passei, na minha lista de pedidos impossíveis de satisfazer pela bolsa familiar, da Scalextric de Fórmula 1, ou de uma pista Marklin HB. Por isso, há-de convir o leitor que está fora de questão que au alguma vez tenha escrito ao Pai Natal e alguma vez o fiz foi já bem crescidinho para lhe pedir um aumento salarial. Encarregou-se a vida de me comprovar que é bastante mais simples acreditar no velhinho de barbas brancas e saco às costas do que encontrar, como hoje encontrei, um camião de combate a fogo em escala 1:1, mais a mais acompanhado de um conjunto de 6 bombeiros, tipo Action-Man, que mexiam mãos, braços e cabeças como eu nunca vi Action-Man nenhum alguma vez mexer. Teremos então de rebobinar a história, quase ao tempo do "era uma vez" e explicar que quando saí para consoar ia diminuído das minhas faculdades visuais, coisa que não é fácil para um morcego como eu. Acometido há alguns dias atrás pela violência de uma pequena infecção ocular, decidi submergir na noite escura desprovido das minhas lentes de contacto, o que me transforma num ser inseguro, constantemente rodeado de um espesso nevoeiro, coisa que irrita como sabem os ingleses que não podem voar, e mais a mim o português que não pode guiar. É triste, é chato, mas vive-se bem com isso desde que o indígena se mentalize que o que tem no prato é bacalhau, não preciso de o olhar nos olhos para o comer, aquelas coisas ali são couves, com azar, mas isso nota-se, pode eventualmente ser uma folha de azevinho que se tenha solto do centro da mesa, mas as couves não amargam e se sentir alguma picadela a coisa pode ser tomada por uma espinha que daí não virá grande mal ao mundo, que ninguém morreu por comer gato por lebre ou azevinho por couves. Eram vinte e três e quarenta quando terminei o repasto, encerrado com pompa e circunstância por uma dose calórica de sobremesas capazes de ressuscitar uma anorética que tivesse falecido sem dar por isso, mas tal não será grande novidade, pois mais de dez milhões de portugueses o faziam, benza-os Deus, ao mesmo tempo do que eu e quem sabem com melhor textura e sabor. Ingerido o sacramental café, decidi que antes da confusão da distribuição prendal haveria de fumar um cigarro. Não foi difícil fixar a hora do final da refeição, aliás basta ter uma criança pela casa a perguntar "que horas são?" para se saber que a escalada da última meia hora é a que mais custa, afinal parecem-lhes tão curtos os minutos e longa se torna a espera. Quando, no meio do meu nevoeiro decidi procurar o meu casaco para enfrentar o tempo rijo do exterior, fi-lo não por masoquismo ou sofrimento auto-infligido, mas por necessidade de preservar dos outros a inalação do fumo, mal eu sabia a suspresa que me estava reservada e que nem embrulhada vinha. Habituado à geografia do local, nem acendi a luz, que aliás de pouco me serviria, pelo contrário, o brilho confunde-me sem sequer ajudar à festa e dei um passo para o exterior. No escuro hall vislumbrei um vulto, as bandas do casaco brancas, alvíssimas. "Ah, alguém que se prepara para entrar de Pai Natal vestido e vai cedinho que ainda faltam vinte minutos para função...". Passei pelo vulto, nunca foi mais que isso, lancei-lhe um sorriso de comiseração, afinal por conta da minha falta de lentes eu não encarnaria este ano a tradicional distribuição de embrulhos. Foi neste preciso momento que comecei a achar estranha a vestimenta do vulto, eu nunca tinha visto um Pai Natal de capacete, máscara e garrafas de oxigénio e em cujas costas se lesse "Bombeios Voluntários da Moita". Está decidido, para o ano peço uns olhinhos novos!

P.S.- Não entendo como é que se combateu um incêndio no apartamento do lado sem ninguém ter dado por isso. Não entendo como é que num incêndio com fuga de gás não se cortou a alimentação eléctrica do prédio. E muito menos entendo como é que nenhuma das autoridades presentes não se recordou de avisar quem quer que fosse dos restantes andares.

9 comentários:

Bhixma disse...

Mas que noite!... Mas nada me espanta. Neste período natalício, tive uma fuga de gás na cozinha. Já estiveram quatro ou cinco técnicos (com inspectores e tudo) e ainda não estou convencido que a questão esteja resolvida. Qualquer dia, eu & família vamos pelos ares, mas não deve vir nenhum mal ao mundo por isso...esperemos!

Pedro Aniceto disse...

Sou um bocado maníaco com questões de gás. Dou comigo a rever anualmente a data de validade das borrachas, a verificar uniões e braçadeiras. Fui eu que montei em minha casa tudo o que a gás diz respeito, mas depois de estar feito, pedi a um técnico que inspecionasse a rede. Mas de facto um tipo não pode nunca ficar descansado...

kincas disse...

E já agora onde é que estão instaladas essas borrachas?

Pedro Aniceto disse...

No caso do esquentador dos meus pais (cuja verificação também está a meu cargo...) são as borrachas da bilha para o fogão e esquentador, aqui em casa é a que alimenta o fogão.

kincas disse...

AI, AI, AI
O Sr. tão zeloso não sabe que não é permitido o uso de tubo de "borracha" nem braçadeiras dentro da habitação?
Há mais de uma década.

kincas disse...

Para ser mais "preciso" (ou será correcto).
Aparelhos fixos têm de estar ligados com ligações metálicas (rígidas ou flexíveis).
E fixos são todos aqueles que não são transportáveis.
Exemplo de transportáveis: aqueles aquecedores que "levam" a botija dentro.

Pedro Aniceto disse...

Kincas, tu és capaz de ter razão (até porque tens obrigação disso), mas agora repara como são as coisas. Calhou eu estar em casa quando uns senhores cim um ar muito atarefado e importante vieram cá a casa para a "certificação blá blá blá". Eram da Certiel (se é que isso te diz alguma coisa) e depois de muitos "humms" e "pois..." seguidos de encolher de ombros disseram-me pomposamente que não podiam passar o papelinho porque havia uma "Não conformidade". Como o construtor estava presente, limitei-me a gozar o pratinho até que eu mesmo quis saber qual era a não conformidade (não fosse a casa explodir-me). Pois, para meu espanto o artista disse-me que não me aprovava a instalação eléctrica PORQUE O PORTÃO DA GARAGEM NÃO TINHA UMA LIGAÇÃO À TERRA. Perguntei-lhe se ele me estava a gozar, que desde quando é que um portão manual precisava uma ligação à terra. Disse-me uma data, mas podia ter dito que era desde 1143 que para mim era igual. Disse ao construtor que fosse com eles beber uma "mine" (já tinha frigorífico ligado, coisa que enxofrou os senhores como se eu tivesse cometido algum crime lesa certificação). fiz um furo na calha de alumínio do portão, puxei de um cabo (fiz questão que fosse amarelo antes que eu fosse preso), aparafusei um olhal na calha, colei 40 cms de cabo até uma Shucko que tenho na garagem, levantei-lhe o espelho e meti o fio debaixo do espelho (não o liguei, era o que me faltava). Quando voltaram da "mine" perguntei o que era preciso mais. Assinaram o papel (ainda o tenho, por sinal) junto ao portão da garagem e agradeci muito enquanto (fiz questão), arrancava o pedaço de fio da parede. Se algum dia me perguntarem onde é que podem enfiar as certificações eu digo-lhes!!! Quanto às minhas borrachas, não fazia ideia de que há dez anos que não se usavam (diz isso ao vendedor de borrachas aqui da zona que ele goza-te durante trinta anos), mas honestamente, prefiro as MINHAS borrachas mesmo que ilegais do que coisas "certificadas" por tipos que deviam era dedicar-se à gatunagem na borda da estrada. (Nothing personal, thought). E por falar em gatunagem, amanhã vou ver se o teu monitor já está pronto.

kincas disse...

Ainda voltando às "bichas".
O vendedor ai da zona pode muito bem tê-las à venda.
Elas são permitidas por exemplo para os maçaricos (para chamuscar os porcos).
Ops, mas já não se podem chamuscar os porcos em casa :(
Podia ser para chamuscar os "aerodeputados" que se lembraram dessas coisas.
Bem, ainda pode vender para ligar as garrafas que estão na rua, e para os maçaricos para outras chamuscadelas .

Pedro Aniceto disse...

"Não se podem chamuscar os porcos em casa". Ainda bem! Capazes de apanhar alguma indigestão... Eu, que só queria um Euro por cada limão que cortei para proceder à preparação das tripas. E só neste blog há uma geração de tipos que percorreram o MESMO caminho para a ribeira. Nenhum deles trabalha em Bruxelas, é certo, e não há que eu saiba, em Bruxelas tipos que tenham lavado tripas (mas consta que há suínos)... E agora chega-te aí mais para a esquerda para que os enchidos nao te pinguem o casaco com gordura... :)