Tive um cliente em tempos que acabado o expediente se dirigia a uma zona do escritório, e depois de todo o pessoal ter saído, e desligava criteriosamente alguns disjuntores eléctricos. Eu achava aquela operação tão peculiar que um dia lhe perguntei das razões de tamanha preocupação. "As máquinas ficam a gastar energia! Se não sou eu a desligá-las, ninguém as desliga...". Sendo um escritório com métodos absolutamente artesanais, onde tudo se fazia manualmente, houve que derrubar algumas barreiras de mentalidade antes de se instalar uma autêntica revolução informática. Para que tenham uma pálida ideia, o Departamento de Facturação, que produzia todos os dias largas centenas de facturas todas dactilografadas em duas belas máquinas de escrever Olivetti, accionadas por duas diligentes funcionárias (chamava-lhes as Rainhas do Radex), foram substituídas por um pequeno computador pessoal cuja vigilância eléctrica estava a cargo do referido cliente. Sempre que se ausentavam do seu posto, e caso ele passasse pelo local, a máquina era de imediato desligada (primeiro à bruta, puxando pelo cabo) "Parece impossível uma máquina tão cara e não tem um interruptor", e depois de lhe explicadas as desvantagens, cumprindo o correcto procedimento. Foram anos de evolução informática, chegaram a ter uma rede local com doze postos, cheguei a julgar que o senhor iria enlouquecer a fazer a ronda dos terminais mas lá fomos evoluindo. Até ao dia em que a sua vasta rede de vendas exigiu a carga remota das espantosas avalanches de encomendas que essa mesma rede comercial produzia. Com a Internet no seu início, optei por sugerir uma solução deveras avançada para a época, com um servidor centralizando a recolha de dados dos quarenta e dois vendedores que cobriam todo o país, evitando-lhes a "peregrinação" semanal a Lisboa e evitando que as Ilhas tivessem constantemnete problemas com o extravio de correio através do qual as encomendas chegavam a Lisboa. Embora tecnologicamente "cego", o Sr. S. tinha uma espantosa confiança nas novas tecnologias e não demorou a aceitar a experiência (tudo naquele santo escritório passava por um período experimental). Na primeira reunião geral que promovi para o balanço e afinação do sistema que continuava a decorrer em paralelo com o processo manual, o feed back dos vendedores foi absolutamente catastrófico."Só consegui meter as encomendas no primeiro dia!" ou "O melhor é esquecer isto, não consigo sequer começar a lançar os pedidos...". Fiquei estarrecido e "acampei" na empresa durante o tempo necessário para perceber o que estava a obstruir os meus esforços. Percebi rapidamente. O Sr.S. circulava pelo escritório e desligava tudo o que fosse máquina que não tivesse uma pessoa sentada à frente, deixando o servidor inactivo. Faz anos que não sei do Sr.S. mas estou convicto de que está a trabalhar no Departamento de Jogos da Santa Casa da Misericórida. Um sistema de apostas online, que devia trabalhar vinte e quatro sobre vinte e quatro horas, algo que custou milhões, é criteriosamente desligado aos Feriados e aos dias da semana depois da meia noite até às dez horas do dia seguinte...
01 janeiro 2007
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3 comentários:
para não falar nas 15 horas que demora o aviso de prémio (até agora só 11's e 12's)
Pois, esse nunca experimentei! (Por manifesta má vontade dos resultados dos concursos!) ;)
experimenta jogar momentos antes do sorteio, tipo uma hora antes... boa sorte.....
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