15 fevereiro 2007

O gago

Não importam os detalhes, nem as razões. A história coloca-nos numa largada de touros algures no Ribatejo e o encenador semeeou na cena, uma boa meia dúzia de maduros e cromos típicos da cena rústica e rural. Depois da festa brava, de muito rebolão, escorregadela e cornada, o grupo encostou a barriga ao balcão de um tosco bar em madeira e rodada após rodada foram engrossando os cabedais das cervejeiras. Um outro grupo decidiu invadir o espaço, e mais provocação menos chiste, mais empurrão menos álcool entornado, azedou o caldo. Uma rixa de bêbados, dirão os menos avisados e experimentados nas tentas do Ribatejo, uma luta impossível se pensarmos na graduação da cerveja já ingerida que impedia que o soco fosse certeiro, mas passível de causar estragos se ao acaso uma mão, mesmo que aberta, acertasse no opositor. G. e A. ficaram isolados contra o dobro dos opositores, manda a decência e as regras éticas do wrestling de rua que se colocassem costas com costas, isto depois de A. ter, com um só soco, destruído meio bar, que recorde-se, toscamente se aguentava à volta de meia dúzia de tábuas. G. não tinha tido melhor sorte e só conheceu algum sossego espiritual depois de se ter desembaraçado com dificuldades de três moços de forcados que bem o tentaram pegar de cernelha. G. é uma criatura enorme e é gago. Um azar nunca vem só, e usa uma prótese dentária completa que teima em saltar-lhe da boca quando se enerva, quem sabe são as próprias palavras que se lhe enrolam na placa e a fazem saltar. G. tentou animar o seu parceiro de costas e dar-lhe a estratégia guerreira que haveria de levá-los à vitória. "Ve-Ve-Ve-enham eles! Ve-Ve-Ve-nham eles!" gritou sem temores e entusiasmado e talvez por isso mesmo, com o entusiasmo, lhe tenha saltado boca fora a prótese. "Vfe-Vfe-Vfe-nham Efles! Qu-qu-qu-e até os co-co-co-mo ne-ne-enm qufe sefja com as gen-gen-gen-givas!"

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