21 março 2007

Escalas

Havia uma certa tensão no balcão do pequeno bar. Quase juraria, ao entrar, ter-me visto num plano de "Por um punhado de dólares", com homens por barbear a entornar de um só golpe, copos de Bourbon ranhoso. Mas não, fora apenas sugestão cinematográfica. Nem música de Morricone havia, apenas uma TV a relampejar um aborrecido jogo de futebol. Do lado de cá apenas eu e um tipo ébrio que fazia o que lhe era possível por se manter de pé. Do lado de lá, o dono do pequeno bar, com cara de caso e um conveniente pano de louça dependurado no ombro. "Dá-me aí uma ginja...", disse o ébrio de voz enrolada. "Àgua, leite ou sumos" respondia uma voz dura do lado de lá do mármore. "Uma ginja, porra!". O pano da louça dançava no ombro do dono do bar, que na sua sentença final decretava: "Não bebes mais álcool aqui hoje!". O bêbado não percebeu e tomou a coisa como injustiça flagrante. "Eh pá, mas eu pago...". "Não bebes mais álcool aqui hoje!" retorquiu-lhe, a voz mais áspera, o facies mais duro. "Então mas porquê?", O diálogo estava a ser delicioso, não fosse o facto de eu ainda não ter bebido o almejado café. "Não há mais álcool hoje!". O rosto do ébrio iluminou-se, tinha visto a luz, descodificado a mensagem. "Ahh! Já percebi! Não me vendes mais álcool hoje... Então dá-me aí uma Mini..."

5 comentários:

Luís Maia disse...

Estava mesmo á espera que a resposta do dono do bar, quando inquirido muito directamente com o "então mas porquê ? " fosse "porque não tenho ginja"

Rosa dos Ventos disse...

Também há cerveja sem álcool! ;))

Aragana disse...

Lindo!
As pessoas bebedas tornam-se personagens interessantes.

Anónimo disse...

sem alcool e com sabor a pessêgo!
;)

Anónimo disse...

É curioso, mas acho que não há MINI sem álcool... porque será?