31 maio 2007
Ribeira vai cheia
Junte-se uma equipagem de reformados da improvável embarcação do Senhora do PostScript, gente farta de mar e ao mesmo tempo saudosa do sal, uma caixa de sardinha e um barril de tinto do jarro e a conversa fluirá como um mar, aparentemente calmo mas revolto no interior da vaga. Mestres Contramestres, pilotos e demais grumetes. mai'lo marinheiro de água doce que serei eu, no cesto da verga apreciando a paisagem. Conversa brejeira, sempre brejeira que lhes não há-de dar para outra rota. Qualquer que seja o pretexto a conversa desenrolar-se-á como uma rede, nó aqui, nó ali, e há-de sempre bater na praia da brejeirice, cujos detalhes de sobremaneira sórdidos pouparei ao leitor com uma única excepção, o da discussão de ventos que assolam e assopram nas docas novas do Porto de Setúbal. "É uma merda! Faz-se ali um garroasso (Mar de carneiros para marinheiros imberbes) que esfola amarras, não é o primeiro que vai ao Espichel buscar o bote". "Mas isso ainda não é nada, quando está de Nordeste o vento entra pela doca, chamam-lhe o Orelhudo". Orelhudo? pergunta o marinheiro do cesto da gávea, que serei eu no caso, e o leitor caso lá estivesse. "Sim, é muito mau quando sopra de Mordeste". E fica-se ali p marinheiro de água doce, a perguntar-se sobre a troca de nomes do vento e quando à sua volta olha, o marinheiro não verá terra nem sinal de costa, apenas o riso de chacota de quem sabe que o peixe há-de morder, e o que tem de morder tem muita força.
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