06 junho 2007

Are you going to Scarborough Fair?

Eu não sei se teria coragem e estofo para ser professor a tempo inteiro. Se bem que goste (e muito) de Formação, falta-me a paciência para processos mais prolongados de pedagogia. Reconheço porém, e justiça lhes seja feita, que os professores do Ensino Público português são, em muitos casos, autênticos Mestres. Porque não deve haver nada mais reconfortante que pegar num grupo, trabalhá-lo, moldá-lo e levá-lo a uma meta. Sei, por experiência própria que pode também ser um processo doloroso quando as coisas não correm bem, ou quando apenas uma minoria consegue cruzar essa mesma meta. Quando isso acontece os bons profissionais sofrem sozinhos, os maus encolhem os ombros e procuram uma desculpa. E ensinar num clima de pressão do próprio Ministério, num ambiente de opinião pública desfavorável pode levar a um estado de "deixa arder que o meu pai é bombeiro", próprio de quando as coisas correm menos bem. Mas há um detalhe que separa os bons profissionais dos maus profissionais. Daqueles que vestem a camisola de professor e que depois a não conseguem despir porque se lhes agarra à pele dos que não nasceram coma vocação do ensino. E nesse caso sei do que falo. Por mim e por coisas que vou lendo. Como este email que hoje recebi que me recordou alguns dos Mestres que tive e de quem passei a ter saudades antes ainda da última aula ter terminado.

"Esta turma foi a que me deu mais trabalho, um dia num teste levantaram-se todos os que estavam junto à parede e foram debruçar-se na janela. Perdi a cabeça e disse-lhes que eram a turma mais merdosa que já tinha tido e que bem podiam ir queixar-se à directora de turma e ao conselho directivo. Passei-me mesmo. Na aula seguinte eles pediram desculpa e eu também, mas agora no fim do ano elogiei-os porque acabaram por ser a turma mais cumpridora e trabalhadora que tive. E já tenho saudades deles..."

3 comentários:

Anónimo disse...

Portugal está cheio de boa gente e ainda por cima muito competente. Isto apesar de abundar o inverso, também.
Faltam as condições de trabalho para que a competência possa vencer a imbecilidade, espécie de estado geral do, aparente, ser português, normalmente cultivado pela classe política e aclamado por alguma imprensa.
Resta-nos o consolo e esperança que tudo isso há-de mudar, pois há gente, como este exemplo que o Pedro citou e outros que todos nós poderíamos citar, que não desiste, não desiste, não desiste, …

Anónimo disse...

O episódio que conta fez-me recordar uma frase do general Patton: "Um bom militar cumpre sempre as regras. Os excepcionais nem sempre."

Anónimo disse...

Eu fui professora durante 4 anos e um mês. O 1º ano após o estágio foi o que qualifico como um ano de sonho! De facto só podia estar a sonhar... pois os anos subsequentes provaram que aquele meu 1º foi uma grande excepção!
Tive alunos exemplares, daqueles que competem para ir ao quadro ou para responder às questões colocadas. Respeito, motivação, empenho! Quase todas as estratégias por mim utilizadas na sala de aulas surtiam o efeito a que se propunham, e ,caso contrário, eram reformuladas em conjunto com os alunos num ambiente de saudável partilha e discussão. Foram realizadas imensas actividades curriculares e extra - curriculares sempre com o apoio do Conselho executivo, atento às necessidades e interesses de todos.
Nos anos seguintes o choque. A realidade, enfim.
Coloquei em questão as minhas capacidades. Se os alunos saltavam pela janela a meio da aula era porque eu não os conseguia controlar... Era nova, não me respeitavam.... Rastejavam pela sala, berravam, saíam a meio da aula sem autorização, etc, etc,etc.
Nas reuniões os colegas remetiam-se ao silêncio, não havia queixas relativas às turmas... Só eu tinha... Eu era mesmo uma péssima professora.... Mas as chamadas faltas disciplinares íam-se acumulando em todas as disciplinas( não era fácil um professor do quadro admitir q não controlava os alunos).
Nenhuma estratégia resultava.... O que fazer?
Em desespero dirigi-me ao Conselho Executivo.A resposta: " Não há nada a fazer, tens de levar a cruz ao calvário..." Fechei a porta atrás de mim e chorei.... E desisti...
Desisti.... Sozinha não conseguia. Não sei fazer milagres. Devo ser mesmo uma péssima professora...
Escolhi a carreira de docente muito por influência de excelentes exemplos que tive enquanto estudante. Talvez não tenha feito o meu melhor (isso incomoda-me....), mas fiz o que consegui...
Hoje sou caixa num hipermercado...Os sonhos que tinha esfumaram-se e ilusões não tenho nenhuma....