Eu sou um bocado antigo e as minhas memórias são capazes de ser mais antigas ainda e isso às vezes preocupa-me, não que me aborreça com rugas ou demais protuberâncias, na verdade isso nunca me afligiu e no dia em que me virem preocupado com isso, chamem a ambulância que o tipo não está nada bem... As minhas memórias fazem-me crer que eu vivi muitos anos antes de de facto ter visto a luz do sol pela primeira vez e depois sucede que eu tenho de parar para desembaraçar o que são falsas memórias daquilo que de facto vivi e isso, queiramos ou não, é uma chatice que me faz perder imenso tempo, tempo esse em que não faço outras coisas que por sua vez me trariam outras memórias, as falsas e as verdadeiras e aí vamos nós outra vez no torvelinho das ideias. Há bocado estava a fazer a barba e deu-me a fome. Vejam bem como começam os novelos, um tipo lembra-se de coisas passadas que já foram há tanto tempo, mas há tanto tempo, que pára em frente ao espelho a pensar que se calhar foram tudo ilusões e quimeras quem nem mereciam ocupar espaço nos neurónios que tão precisos são para outras coisas bem mais comezinhas, como por exemplo lembrar-me de datas de aniversários diversos, coisa em que não sou nada especializado e me traz dissabores e vergonhas de toda a espécie. Sou incapaz de me lembrar de uma data, suprema desonra, mesmo daqueles que me são mais chegados e aprendi a viver com isso sendo que levarei para a tumba a eterna dúvida do que dia é hoje, coisa que me afecta bem menos a mim do que aqueles de quem me olvido e era bem possível formar um exército de um país pequenino se os fossemos obrigar a cerrar fileiras na batalha dos aniversários. Deu-me a fome, dizia, senão esqueço-me, é uma gaita, e examinei o frigorífico. Foi aí, nesse preciso instante em que a luz da pequena lâmpada se acende, a do interior do frigorífico e aquela pequenina luz que de quando em vez se nos acende no cérebro que tive a certeza de que era um bocado antigo... Quando percebi a interminável quantidade de marcas de iogurtes que tenho dentro daquele branco monte de lata. Parei uns instantes para desenrodilhar as tais falsas das legítimas e enquanto coçava o queixo, tive a certeza: Quando eu comecei a comer iogurtes só havia três marcas. O Bom Dia, o Veneza e o UCAL. E disto tenho a certeza, do resto nem por isso.
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9 comentários:
No Norte, pelo menos, havia ainda o Longa Vida; o UCAL creio que não chegava lá, o Veneza,sim.
Pensando melhor, acho que estou a confundir o Veneza com o Sabóia.
Pois eu só me lembro de haver os caseiros e os Yoplait de banana. Comi tantos yoplait de banana que ainda hj, de vez em quanto, arroto aquele cheiro a banana plastificado... :s
Á atenção muito especial de LMB, RL e HF, destaco estas passagens de PA, para reflexão conjunta
...Eu sou um bocado antigo e as minhas memórias são capazes de ser mais antigas.
...As minhas memórias fazem-me crer que eu vivi muitos anos antes de de facto ter visto a luz do sol pela primeira vez.
Olha que no tempo em que comecei a perceber o que comia, ninguém comia leite azedo.
(Aposto que pai Aniceto concorda comigo)
Modernices de meados dos anos 50,acho que nos primórdios só havia mesmo o Veneza.
"Diálogos do Jurássico", "Os dinossauros e a Maçã(no iogurte)".
Aceitem isto como um elogio. Também (ainda) me lembro de algumas dessas marcas. Nunca ouviram falar dos iogurtes Âncora? Bem cá do Norte.
Sempre atento Maia:-)
Epah eu sou "recente" e lembro-me dos Ancora!
Muito mais recente q isso tudo, lembro-me de uns iogurtes que vinham numas embalagens de esferovite, apertava-se de lado para a tampa saltar.. acho q foi a conta desses que me fartei de iogurtes de morango.
Os primeiros foram os das Yogurteiras que se deixavam de noite na sua labuta.
Era comprado um Natural em frasco de vidro com tampa em alumínio. Depois era só esperar que esse se reproduzisse muitas vezes.
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