24 julho 2007

E não há quem ponha mão nisto?

Irrita-me a imbecilidade, tira-me do sério, faz-me praguejar (mas isso até alivia...), a estupidez funcional de sistemas que toda a gente sabe que não funcionam mas que assim permanecem meses a fio, anos até. Parecemos um país de cegos nas camadas superiores e um imenso rebanho de ovelhas nas camadas logo abaixo destas. Há uma estação da Fertagus (Coina) em que há dois locais onde se pode adquirir um bilhete de estacionamento. Na casinha do estacionamento propriamente dito e na bilheteira da estação. Parece simples. Devia ser simples. Mas estamos em Portugal e há uma notória diferença entre os dois locais, coisa de somenos, detalhes, minudências da superior inteligência que desenha estas estranhas formas de vida. Dizia eu, há uma diferença básica entre os dois bilhetes do estacionamento. Um, o da casinha do estacionamento, permite que a cancela abra automaticamente quando o bilhete é introduzido na ranhura e o da bilheteira da estação NÃO! A ovelha, eu neste caso, chega lãzuda à cancela, enfia o bilhete na ranhura e a porra da máquina não o aceita, invocando um erro de leitura. É assim há DOIS MESES, caro pastor! Hoje, cansado, suado, e farto deste rebanho de triste figura, decidi pedir explicações. Explicações sobre o facto de ter obrigatoriamente de entupir a via de saída para sair do carro, fechá-lo, ir à casinha do estacionamento (era suposto não ter de fazer absolutamente mais nada senão ir à minha vidinha...), pedir (por favor, eu peço sempre por favor) que me emitam uma merda de um bilhete de saída novo, voltar ao carro, abri-lo, baixar o vidro, enfiar o cartão na ranhura e sair. Claro está que hoje não esperava milagres. Reconheci imediatamente nas pobres almas a quem expus a minha razoável fúria, irmãos de lana caprina tal qual eu me sinto. Iria jurar que quase lhes ouvi os balidos, aqui e ali um engate de um sonoro Mé-é-é! Claro está que ninguém sabe os porquês, só sabem que lhes dá mais trabalho, que por vezes têm de abandonar o posto para ir à cancela, abrir a portinhola cuja tampa já nem fechada à chave está, ouvir os impropérios de pessoas que tudo o que querem é fugir dali, depois de terem pago um serviço que deveria simplificar e só complica. Talvez me atreva a sugerir um incentivo a quem decide estas coisas dos sistemas de informação. Aquilo não é cálculo balístico, dependente dos humores dos deuses e dos ventos ou das temperaturas. Aquilo é uma cancela que reage a informação numa banda magnética. Corrijam-na, no caso dos bilhetes da estação. Ofereçam um incentivo ao técnico responsável, tipo, "Ou pões esta merda a trabalhar decentemente ou és despedido!". Costuma funcionar relativamente bem. Tal e qual como nos rebanhos de ovelhas, há poucas coisas que um cajado bem manejado não consiga resolver.

5 comentários:

botinhas disse...

O problema é do pastor que não assobia convenientemente ao cão, que por sua vez não corre nem na direcção certa nem dá a trinca na perna correcta, fazendo com que o rebanho paste onde quiser.

Pedro Aniceto disse...

Eu não sei de quem é o problema. Eu tenho pena que a besta* que administra estas coisas não tenha alguma vez tido o discernimento necessário para descer do seu pedestal, e, de quando em vez, fazer ele mesmo, sem peneiras e pass cards, o percurso que aqueles que lhe dão de comer têm de fazer todos os dias. É vai sendo tempo das ovelhas deixarem de ser submissas e colocar questões.

* Sim, processem-me.

LMB disse...

És uma 'ovelha' recente. Dois meses, dizes tu? Eu não reconheço melhorias, digamos, desde que a dita estação abriu.
Vais ver que para algo tão simples, estarão à procura de alguém com um MBA em 'gestão de cancelas'. A preocupação dos rapazes vai mais no sentido da afunilada fiscalização do bilhetito à saída. Profit first-Customer later.
Nada de novo, portanto.

Pedro Aniceto disse...

LMB, como nunca tiro o bilhete na casinha (compro-o juntamente com a deslocação) e SEMPRE tive de fazer o número que descrevi, pelo menos por seis vezes nos últimos meses, foi por isso que estabeleci esse prazo. Mas já dura há mais? E ninguém se queixa formalmente?

Luís Maia disse...

Olá carneiro amigo, não sou colega nessa situação, mas na qualidade de utilizador dos serviços público do Estado, cliente de bancos, cidadão contribuinte e de outros gatunos, somos todos vítimas.
Um dia que não tenhas pressa, não saias do carro insiste ali mesmo, na máquina onde introduzes o bilhete deve haver um botão para falares com alguém, obriga alguém a ir lá abrir a porta, provoca ajuntamento e confusão. Talvez dê, manda o SMS para o Diário de Notícias, contando em poucas palavras o que aqui relatas, ou mesmo este texto todo para as cartas ao director, pode ser que dê. O pior do feitio carneiro é que no fundo, facilitamos. Quando foste à casinha, trocar o bilhete por um válido, estávas a facilitar-lhe a vida estás a resolver por eles.Isso só se resolve não saindo da cancela e não tirando o carro, concordas ?
Como digo no meu blogue, Se o tempo em Portugal dependesse do Governo, choviam bostas de vaca todos os dias.
Em frente Saramago, vamos a isso.