A leitora Rita, que no post anterior deixou um comentário sobre o Tovarich, presenciou, faz alguns anos uma das mais monumentais gaffes profissionais de que me recordo alguma vez ter cometido sem que eu tivesse sequer aberto a minha boca. Estávamos ambos de visita às excelentes instalações de uma das mais prestigiadas universidades portuguesas. O departamento de Artes, dotado de alguns pisos muitíssimo bem equipados em salas e equipamento de apoio, estava a ser-nos mostrado por um dos Professores responsáveis, que fazia as honras da casa em explicações pormenorizadas. Salas dotadas de computadores Apple (what else?) onde a manutenção é completamente remota, bem como o refrescamento de sistemas de cada posto, tarefa executada diariamente por um servidor central que apaga qualquer modificação executada durante uma jornada de aulas. A jóia da coroa estava guardada para a parte final, os compartimentos envidraçados das aulas de música clássica, com lustrosos pianos de cauda em salas individuais, onde inúmeros alunos praticavam com afinco a respectiva aprendizagem. Interessei-me de sobremaneira pelas instalações, talvez devido à minha predilecção por pianos, sejam ou não de cauda. À medida que o Professor ia tecendo as suas explicações e considerandos fui reparando num personagem que se deslocava entre os espaços envidraçados, num pequeno corredor que conduzia ao espaço central onde nos encontrávamos. Um senhor de idade, de baixíssima estatura, uns óculos de massa negra encavalitados na ponta do nariz, uns tufos de cabelo que só podiam pertencer a um músico ou a um cientista louco. Quando se aproximou fomos apresentados em língua inglesa, o que achei absolutamente normal (tinha, meses antes privado em Belgais com músicos de diversas nacionalidades e fiz a ponte entre as duas situações). Ali estava, constrangido, sem saber muito bem o que dizer a este senhor baixinho, de óculos, com um papillon demasiado grande para o seu pescoço, sem que eu conseguisse desencantar umas banalidades sobre pizzicatos e staccatos, coisa em que não sou propriamente pródigo. Foi então o anfitrião a atirar-me a bóia de salvação, a corda a que haveria a nossa conversa de agarrar para chegar a terra, se não firme, pelo menos com pé. "Este senhor" disse-me ele emprestando ao senhor um tom respeitosamente majestático "este senhor era pianista no Kremlin...". Não reagi. Ou por outra, fi-lo com cara de espanto. Na minha mente cruzavam-se imagens de relâmpagos de stroblight, imagens virtuais de som furiosamente techno, corpos semi nús dançando em cima de colunas, imagens essas onde, por mais que tentasse, não conseguia encaixar o senhor velhinho de aspecto vagamente alucinado que me fora apresentado alguns segundos antes. Não abri a boca, como disse antes, e só despertei para a realidade das coisas quando a Rita me deu um ligeiro toque de cotovelo e murmurou: "No outro Kremlin... No outro Kremlin..."
*Privet: Olá em língua russa
14 comentários:
já agora, qual era a Universidade? e ainda está equipada com macs? ou foi assim à tanto tempo?
desculpa lá estar a perguntar isto tudo, mas quero desviar uma suspeita...
e já agora, no seguimento das russices, fica por aqui o link para ouvirem uma música do último disco do "nosso" Evgeny Mouravitch:
http://blog.scheeko.org/archives/000378.php
Essa mente, essa mente...
"Essa mente, essa mente..." Só porque eu falei em imagens virtuais de som furiosamente techno?
"essa, mente"
quem é "essa" amil?
PA,
"Na minha mente cruzavam-se imagens de relâmpagos de stroblight, imagens virtuais de som furiosamente techno, corpos semi nús dançando em cima de colunas"
Eu confesso q nem me lembrei da discoteca.. :p
382u: qui ça?
a1000: eu sempre disse que eras inocente!
liga o skype (é uma ordem! :))
Ah bom! Em bem que estava a achar estes comentários um bocadinho estranhos...
382 u: o PA disse "muitíssimo bem equipados em salas e equipamento de apoio", nao pode ser essa Universidade :p
esse departamento já teve equipado com macs, e uma escola de artes onde há russos, musica, macs (havia), e sei lá, design??? talvez quem sabe seja essa (se bem que os macs são anteriores ao design). e já agora,... sr. 382 u (ah!ah!ah!)
PA, desculpe termos tomado de assalto os comentarios deste post... o "essa mente" foi mesmo por causa da associaçao que fez!
"menino" 382 u: Hoje nem cadeiras que chegue tem :p
Acho que ainda ha Macs por la, fechado as sete chaves, destinados a uma elite (nao-design).
(Skype so logo!)
I would like to exchange links with your site caoepulgas.blogspot.com
Is this possible?
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