C., o tontinho oficial da aldeia entrou esbaforido na colectividade, arfando como uma locomotiva a precisar de água na caldeira. "Uma mini, depressa!". Afastei a folha de jornal para dar espaço a tamanha sede e olhei de relance para ver o que aí vinha. Se as entranhas me não enganam, de cada vez que vejo este personagem fico com mais uma história para contar. C. continuava manifestamente nervoso e nem a fresquidão da cerveja conseguira acalmar tamanha excitação. Tudo o que era necessário era uma pequena faísca, um percussor que fizesse desenrolar o fio à anunciada meada. Mas decidi fazer render o peixe, prolongar o início, embrenhado que estava na leitura. Aos costumes ninguém lhe deu muita atenção. Talvez eu desejasse secretamente que alguém perguntasse alguma coisa, bastava-me esperar. Suspirava C. agora, sentia-se que tinha necessidade de dizer algo entre suspiros e gestos nervosos. Ninguém o fez. Ora, se ninguém o faz deixá-lo, há-de ralar-se muito e ele mesmo iniciou o rol de queixas. "Pfffft! Que porcaria de corrida de touros! Os cavalos não prestavam, os toureiros ainda menos! Que porcaria de corrida!". Do lado de dentro do balcão, vi um olhar irónico, mas a falta de réplica estava a estragar-me uma boa história... "Que grande porcaria foi aquela corrida de touros! Não havia um touro que prestasse, 'tá a ouvir senhor Pedro? Grande porcaria!". Não me consegui aguentar. Olha lá, mas tu foste ver a corrida? "Não. não fui. Mas contaram-me!"
16 setembro 2007
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4 comentários:
Mostrava-lhe aquela fotografia para ele ficar com uma "ideia".
E será que quem lhe contou, foi mesmo lá?
Excelente questão...
É o eterno "dizque": eu não fui, mas "dizque", eu não vi, mas "dizque"; eu não sei, mas "dizque".
Ainda vamos descobrir que a PT é a alta patrocinadora deste "dizque" disse...
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