03 setembro 2007

A primeira é sempre do coxo

"A primeira é sempre do coxo" é uma frase que me habituei a ouvir ao longo da vida. Durante muitos anos tomei-a como uma variação do popular ditado "O primeiro milho é dos pardais" (Ou na versão erudita "Milhus Primus Pardalorum Est). Anda um tipo quarenta e tal anos convencido de uma coisa quando depois, num rasgo de sorte, num diálogo que o não é, sentado em cima de uma grade de bilhas de gás, fumando cigarros na companhia de octagenários (Já fumei em locais menos perigosos...), aprende de uma penada o significado das coisas que a outros levaram uma eternidade a aprender. Rasgava-se pano de outras vidas, de infâncias miseráveis mas com o seu quê de encantamento. Falava-se de festas, arraiais e bailes populares espontâneos como picos de sexualidade, e de muita, mesmo muita saudade de outros tempos em que os ossos e a carne respondiam mais ligeiras e com muito menos dores. Discutiam-se divertimentos. "Era tudo gente bruta, moços de fragata e carregadores de sal e carvão. Só estavam bem à punhada, o divertimento deles nas festas era arranjar um arraial de porrada de criar bicho". "O povo já sabia que arraial que era arraial tinha de acabar no posto." Interrogo-os com os olhos e todos assentem que sim, que assim era, risos escondidos e dedos acusadores que terminam invariavelmente com chistes ao jeito de "Deixa que tu também apanhaste poucas...", Pergunto, pergunto muito, eles gostam que eu pergunte para que possam responder com mais ou menos fantasia, tenho a certeza de que enquanto ali estamos ninguém precisa de pensar na vida. Mas esperem lá, um tipo saía de casa já com ela fisgada? "Claro, tínhamos grupos daqui e dali que já sabiam ao que iam...". Então mas como é que a coisa se dava? "Aquilo não custava nada! Chegava-se um ao pé do coxo e dizia-lhe: Vai ali e espeta um estaladão naquele...". O coxo ia lá, aviava-lhe uma valente lapada (tínhamos de lhe dar cinco escudos) e estava o baile armado!".

6 comentários:

Cristina disse...

*suspiro*

cristina amil disse...

ha por ai algum coxo? Precisava de andar a chapada com uns quantos... :D

Anónimo disse...

A nossa terra sempre teve um ou outro personagem que nos divertia. No início dos anos 70, no Porto, frequentávamos uma esplanada de um dos cafés mais conhecidos e pagávamos a um arrumador (sim, sim já existiam) para ajudar os doutores e doutoras (eram todos) a estacionarem batendo nos carros que já la se encontravam. Ou seja:
-Venha, venha, pode vir......bam....venha ver o que fez!

kincas disse...

Mas não tinha sido largado esse vício? (cigarros).

kincas disse...

Eu pensava que era do coxo pois era o que corria menos ao fugir.

Anónimo disse...

Coxos precisam-se!!!!!! Pago bem!