É tempo, penso, de declarar guerra aos pinchavelhos. Esta manhã mesmo acabam de me chegar mais alguns pelo correio.
Encomendei um disco novo a uma companhia americana que vende por correio e, como vivo nesse lugar estranho e remoto chamado "estrangeiro", e porque viajo que nem um pombo-correio, insisti em saber, antes de encomendar, se o disco tinha uma fonte de alimentação internacional.
Uma fonte de alimentação internacional é a peça com a qual não importa em que país você está, ou mesmo que saiba em que país você esteja (é mais problemático do que você imagina) - você liga-lhe o seu Mac e ela resolve o problema sozinha.
Chamamos a este princípío "Plug and Play", ou pelo menos a Microsoft chama-lhe isso porque ainda lá não chegou. No mundo Mac temo-lo há tanto tempo que nunca chegámos a pensar em dar-lhe um nome. Hoje em dia muitos periféricos vêm com fonte de alimentação internacional - mas não todos. Foi por isso que perguntei.
"Sim, tem" disse Scott o assistente de vendas.
"Tem a certeza de que traz uma fonte de alimentação internacional?"
"Sim" repetiu Scott. "Traz uma fonte de alimentação internacional".
"De certeza absoluta?"
"Sim"
Chegou esta manhã. A primeira coisa que notei foi que não trazia uma fonte de alimentação internacional. Em vez disso trazia um pinchavelho. Tenho salas cheias de pinchavelhos e não quero mais. Metade dos pinchavelhos que tenho eu nem sei bem para que aparelho são. Mais importante que isto, metade dos aparelhos que tenho, eu nem sei onde está o respectivo pinchavelho. Irritantemente, a maioria dos pinchavelhos, incluindo o que chegou esta manhã, são pinchavelhos que funcionam a 120 Volts AC - voltagem americana, o que significa que eu não os posso usar aqui no estrangeiro, mas tenho de os manter no caso de eu alguma vez ter de levar o aparelho onde encaixa o pinchavelho - isto implica saber em que aparelho ele encaixa - para os Estados Unidos.
Perguntarão vocês de que raio estou eu a falar?
Os pinchavelhos que me preocupam (e não são, de todo, a única espécie de pinchavelhos com a qual o mundo da microelectrónica está infestado) são os adaptadores de corrente que os portáteis, os palm, discos externos, gravadores de cassetes, gravadores de chamadas, colunas amplificadas e outros aparelhos incrivelmente necessários precisam para reduzir o fornecimento de corrente de 120 ou 240 Volts AC para 6 Volts DC. Ou para 9 Volts DC. Ou para 12 Volts DC. A 500 miliampéres. Ou a 300 miliampéres. Ou a 1200 miliampéres. Têm centros positivos e malhas negativas nas respectivas fichas a menos que sejam do tipo que tem centros negativos e malhas positivas. Pela altura em que você multiplicar todas estas variáveis diferentes você acabará a olhar para uma das maiores indústrias que existem, para, tanto quanto eu posso dizer, encher-me armários de pinchavelhos, nenhum dos quais eu consigo identificar positivamente sem primeiro jogar aos pares com os pinchavelhos. O método usual para encontrar um pinchavelho que case com o aparelho que eu quero usar é sair para ir comprar outro pinchavelho. A um preço asfixiante.
Tradução de Pedro Aniceto. Excerto do artigo original intitulado "Litttle dongly things", publicado por Douglas Adams na Revista Mac User em Setembro de 1996
Encomendei um disco novo a uma companhia americana que vende por correio e, como vivo nesse lugar estranho e remoto chamado "estrangeiro", e porque viajo que nem um pombo-correio, insisti em saber, antes de encomendar, se o disco tinha uma fonte de alimentação internacional.
Uma fonte de alimentação internacional é a peça com a qual não importa em que país você está, ou mesmo que saiba em que país você esteja (é mais problemático do que você imagina) - você liga-lhe o seu Mac e ela resolve o problema sozinha.
Chamamos a este princípío "Plug and Play", ou pelo menos a Microsoft chama-lhe isso porque ainda lá não chegou. No mundo Mac temo-lo há tanto tempo que nunca chegámos a pensar em dar-lhe um nome. Hoje em dia muitos periféricos vêm com fonte de alimentação internacional - mas não todos. Foi por isso que perguntei.
"Sim, tem" disse Scott o assistente de vendas.
"Tem a certeza de que traz uma fonte de alimentação internacional?"
"Sim" repetiu Scott. "Traz uma fonte de alimentação internacional".
"De certeza absoluta?"
"Sim"
Chegou esta manhã. A primeira coisa que notei foi que não trazia uma fonte de alimentação internacional. Em vez disso trazia um pinchavelho. Tenho salas cheias de pinchavelhos e não quero mais. Metade dos pinchavelhos que tenho eu nem sei bem para que aparelho são. Mais importante que isto, metade dos aparelhos que tenho, eu nem sei onde está o respectivo pinchavelho. Irritantemente, a maioria dos pinchavelhos, incluindo o que chegou esta manhã, são pinchavelhos que funcionam a 120 Volts AC - voltagem americana, o que significa que eu não os posso usar aqui no estrangeiro, mas tenho de os manter no caso de eu alguma vez ter de levar o aparelho onde encaixa o pinchavelho - isto implica saber em que aparelho ele encaixa - para os Estados Unidos.
Perguntarão vocês de que raio estou eu a falar?
Os pinchavelhos que me preocupam (e não são, de todo, a única espécie de pinchavelhos com a qual o mundo da microelectrónica está infestado) são os adaptadores de corrente que os portáteis, os palm, discos externos, gravadores de cassetes, gravadores de chamadas, colunas amplificadas e outros aparelhos incrivelmente necessários precisam para reduzir o fornecimento de corrente de 120 ou 240 Volts AC para 6 Volts DC. Ou para 9 Volts DC. Ou para 12 Volts DC. A 500 miliampéres. Ou a 300 miliampéres. Ou a 1200 miliampéres. Têm centros positivos e malhas negativas nas respectivas fichas a menos que sejam do tipo que tem centros negativos e malhas positivas. Pela altura em que você multiplicar todas estas variáveis diferentes você acabará a olhar para uma das maiores indústrias que existem, para, tanto quanto eu posso dizer, encher-me armários de pinchavelhos, nenhum dos quais eu consigo identificar positivamente sem primeiro jogar aos pares com os pinchavelhos. O método usual para encontrar um pinchavelho que case com o aparelho que eu quero usar é sair para ir comprar outro pinchavelho. A um preço asfixiante.
Tradução de Pedro Aniceto. Excerto do artigo original intitulado "Litttle dongly things", publicado por Douglas Adams na Revista Mac User em Setembro de 1996
16 comentários:
Onde se pode desencantar o artigo completo?
Já agora, que pinchavelho(s) recebeste nesta última semana?
"Têm centros positivos e malhas negativas nas respectivas fichas a menos que sejam do tipo que tem centros negativos e malhas positivas." Às vezes um homem sente-se um burro a olhar para um palácio...irra!
Mas mesmo com perplexidades gostei do artigo. Se me lembrar pelo Natal envio-te um porta pinchavelhos que não precisa de alimentação electrica, trabalha a energia solar, tem uns paineizinhos em separado e tal...
Cumps
MC
Que saudades dos tempos longíncuos...
em que ligava para uma obscura lojeca
nos States, para comprar Jogos para Apple II...
"Deixe cá ver se tenho..." e até o ouvia
procurando!!!
Mais Route 66 não havia... LOL
Jota
Com DUM DUM não escapa um...
Ou era para escaravelhos....huummm...dá igual.
é camilo, são primos!
Não é plug and play, é plug and pray.
Diz sempre um amigo que é técnico de informática.
Das diferenças entre o "brasileiro" e o português, essam pinchavelho, foi a segunda que mais me espantou (a outra foi o "autoclisma - colisma?".
Ás vezes sinto-me muito atrasada!...é o caso!
Posso saber a razão específica, Bé? (Presumo que seja por causa dos centros positivos)
Companheiro Oculos: O termo exacto é autoclismo, o simpático mecanismo a que vocês chamam "descarga". Desconheço a origem do termo mas não me surpreenderia se tivesse vindo de alguma marca que passou a designar genericamente toda uma gama de aparelhos, como por exemplo "Preciso de uma Gillete"...
Já o pinchavelho, que não consta do dicionário mas é bastas vezes usado, é exactamente o vosso "Troço". Pega esse troço aí. PInchavelho ou zingarelho quer dizer "coisa", "peça" ou objecto sem função perfeitamente definida.
Onde se pode desencantar o artigo completo?Já agora, que pinchavelho(s) recebeste nesta última semana?
Procura por Little dongly things, talvez tenhas sorte. Se não encontrares, diz, que eu empresto-te o "The Salmon of Doubt", obra póstuma de Douglas Adams que inclui a totalidade do artigo.
Não recebi nenhum pinchavelho esta semana, mas andei TRÊS DIAS à procura de uma porcaria de um transformador que eu sabia estar cá em casa e que não aparecia.
http://douglasadams.com/dna/980707-03-a.html
Quem procura sempre alcança...
(Excepto se se tratar de transformadores...)
Já encontrei, mas deparei-me com um problema... É que além desse artigo ainda tem lá outros melhores!
Douglas Adams escreve muitíssimo bem...
Eheheh... pinchavelhos seja a partir de hoje... gostei do nome!
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