Foi a primeira vez que almocei com duas figuras públicas e que, caído dos céus, um admirador de ambos nos invadiu o almoço para obter autógrafos. Senti-me confortável no meu anonimato e ao mesmo tempo espantado pelas situações intempestivas que isto deve causar-lhes praticamente todos os dias... Uma mão estendida, nem bom dia nem boa tarde, um ar de felicidade a reluzir-lhe no rosto, a frase "é um verdadeiro prazer poder cumprimentá-lo", o contentamento de levar para casa um papel autografado por pessoas que por vezes temos como inatingíveis. Uma das figuras com quem almocei confessou-me ser mesmo a primeira vez que dava um autógrafo a um admirador. Tentei contar-lhes a história do meu primeiro pedido de autógrafo a uma celebridade. Para vocês perceberem há quantos anos isto já foi, aconteceu na inauguração do segundo Centro Comercial de Lisboa, o hoje velho, abandonado e estafado Imaviz. (Pausa para se poderem rir um bocadinho). Num dos patamares intermédios do Centro, dentro de uma espécie de quiosque decorado com logótipos Timex, estava Emerson Fittipaldi, na altura a promover a sua própria escuderia, a infeliz e pouco saudosa Copersucar, então patrocinada pela multi nacional americana de relógios. Na fila que se formou para a obtenção do almejado rabisco, consegui ser dos primeiros. Chegada a minha vez, um postal com uma imagem do infeliz Copersucar e um "Para o Pedro, Emerson Fittipaldi" entrega acompanhada de um aperto de mão vigoroso que nunca esquecerei. Ali estava eu, o puto a gazetear a escola, frente a um tipo que eu só via correr a preto e branco aos Domingos ao almoço. Do Imaviz até casa, no Marquês, fui em êxtase. Deitado na minha cama a admirar o postal e a pensar "É mesmo dele, eu vi-o escrever isto!". Só a voz da minha mãe a chamar-me para jantar me tirou daquele encantamento. À questão "Já foste lavar as mãos?" tentei argumentar com o aperto de mão de Fittipaldi. "Ainda cheira, ora vê...". Não tive sorte nenhuma. Não posso precisar, porque nunca lhe perguntei, mas naquele preciso instante em que ensaboava as mãos eu desconfiei que a minha própria mãe era fã do Jackie Stewart...
O mundo é uma aldeia pequenina.
8 comentários:
Há uns anos o menino,portista doente, era confundido com uma antigo jogador do benfica.
Houve situações verdadeiramente caricatas. Fotografias tiradas com discrição mal disfarçada, apostarem a conta do almoço, etc.
A melhor foi num centro comercial.
Um senhor pediu licença e colocando-lhe a mão no ombro disse-lhe:
- deixe-me cumprimentar este grande benfiquista!...
-Não! Não sou o A.C.! Até sou portista ferrenho!
Respondeu-lhe virando as costas:
-que pena!
Há uns 12 anos atrás pedi um autógrafo ao Nuno Gomes, estou tão arrependido... Lá sabia que o rapaz iria parar ao Benfica.
Eu, um tal de gaiteiro de outro blog e + um amigo, demos autógrafos em wroklaw, na Polónia, em 1992, porque, imaginem, o homem que recebia as malas e mochilas no depósito da estação de comboios, achava que nós éramos jogadores do F.C.Porto. E tudo porque as únicas palavras que ele entendeu do que nós dissemos foram "Mlinarzick" (que eu tinha conhecido pouco tempo antes), Porto e F.C.Porto. Até tivemos que escrever o nº da camisola para eles nos reconhecerem na televisão!...
Esta história dava um livro, soubesse eu escrevê-la (e tivesse paciência).
Small World effect... Sinceramente, não esperava dar com este momento descrito no seu blog! Agradeço aos quatro o facto de terem disponibilizado alguns minutos comigo, ainda para mais tendo eu interrompido o vosso almoço. E aceitem as minhas desculpas por ter causado algum incómodo. Embora as figuras públicas estejam mais sujeitas a situações como estas, todos temos direito à nossa privacidade...
Quem não estava propriamente confortável com o momento era eu, até porque o Pedro Aniceto era o único dos presentes que eu não identifiquei. Tendo eu um fraquinho por Macs e ponderado a hipótese de "mudar de camisola", talvez o seu blog dê uma ajuda nesse sentido. Em tendo alguma disponibilidade, vou dar uma vista de olhos aqui pelo Reflexões de um cão com pulgas....
Os melhores cumprimentos.
P.S. O seu encontro com o Fittipaldi deixou-me um sorriso na cara. Acho que agora sei o quão importante deve ter sido para si. Porque todos admiramos certas pessoas...
até porque o Pedro Aniceto era o único dos presentes que eu não identifiquei.
Imperdoável, pá! ;) Quando eu for estratofericamente famoso vais arrepender-te e chorar de raiva! ;)
Eu percebo o embaraço, honestamente que percebo. Pedi três autógrafos na vida, o do Fittipaldi, ao Zé do Pisca (e agora esmifrem-se que saber quem é este personagem do Zé do Pisca não é para todos!) e ao grande capitão Simão Sabrosa. Sendo que este último já foi em adulto e continuou a ser embaraçoso aquele momento "pré-cravanço".
Agora uso outra técnica, peço autógrafos para terceiros. O sorriso de felicidade de um puto que recebe uma folha autografada com uma dedicatória dirigida pessoalmente, não tem preço!
Em 1982, estava aqui o je mais elle nos bastidores de um razoável palco em Vilar de Mouros a apreciar o final de um memorável concerto dos Jafu'Mega. Pedro Barreiros (viola baixo ) tinha entrado em transe e entretinha-se a fazer um solo há uns bons 10 minutos para "desespero" dos seus companheiros que aguardavam a "deixa" e reentrarem no tema. Pois sim. O gozo do Pedro era enorme.
Ao nosso lado (bastidores) uns fulanos com "ar" de músicos dançavam, pulavam e batiam palmas a compasso, deliciados com o que presenciavam. Um deles pergunta-me quem era aquele grupo e eu respondi:
- Quê?
Nestas situações quem me safa sempre é aqui a companheira que se prontificou a explicar ao sujeito quem eram os Jafu'Mega.
O solo acabou, o concerto também e quase de imediato o festival iria terminar com a actuação dos U2 cujo vocalista (um tal de Bono) tinha acabado de me fazer uma pergunta...
Se fosse hoje já era capaz de, no minimo, ter perguntado:
-What?
Agora não posso que não tenho tempo, mas relembra-me esta história dos U2
Vai com Deus...
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