Centremo-nos. B. foi hoje libertado das medidas electrónicas que o mantinham limitado ao espaço físico de três assoalhadas numa dessas vilas dormitório da Grande Lisboa. Disse-lhe "Agora é esquecer e aproveitar o dia que está uma tarde bonita para ir espreitar as garotas...". Apertou-me a mão, agradeceu-me não me ter esquecido nunca dele e pediu-me se o ajudava numa última tarefa. "Aquele fio ali na parede, podemos tirá-lo?", enquanto apontava para um cabo telefónico que jazia abandonado sobre o móvel onde o modem já não estava, levado nessa mesma manhã pelos técnicos dos serviços prisionais. Afastei os obstáculos e arranquei o fio das braçadeiras que o retinham na parede. Foi quando viu o fio enrolado na minha mão esquerda que teve a certeza de que o pesadelo tinha chegado ao fim. Isto, é claro, sou eu a ler-lhe os olhos brilhando e a vê-lo ir ao bengaleiro, pegar num boné cinzento, enfiá-lo com garbo na cabeça, encher o peito de ar, agarrar um molho de chaves pendurado numa ferragem da parede e perguntar-me "Vamos?".
08 março 2008
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3 comentários:
Quem paga as sua dívidas para com a Sociedade tem o DIREITO de ser deixado viver o seu Futuro e o DEVER de ser Feliz.
O que importa é que acabou tudo em bem. Certo?
Existissem mais pais assim por esse país fora.
Cumprimentos
Como é possível este homem que deve ter passado um pesadelo horrível, pediu ajuda a quem devia e não lhe foi prestada, foi obrigado a ter de aturar uma pena por ter defendido a família e a si prórpio.
Consigo imaginar no dia da sentença o advogado de acusação ter pronunciado as últimas palavras "...peço justiça, meretíssimo juíz...".
Também gostava de ser amigo dele.
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