02 março 2008

O pão nosso de cada três dias

Primeiro lixaram-me as morcelas. Hoje fui avisado pela velhinha a quem religiosamente compro pão caseiro a cada quatro dias que era a última vez que o fazia. Eu sei, é um forno arcaico, há alguma promiscuidade na manipulação das massas e na passagem de pessoas pelo local, nada que não tenha acontecido durante milhares de anos de evolução da espécie humana. Mas ter um pãozinho quente, a quem acabaram de espanar a cinza e um ou outro pedacinho de carvão, embrulhado em papel das sacas de farinha ou uma vez por outra (quando me lembro) num saco de pano, dizia tê-lo à boca do forno, onde não por acaso o cão se deita nos dias mais frios, traz-me memórias e sabores que julgava já perdidos. Uns dirão que é o progresso, eu digo que é uma injustiça. Retaliarei. A mesma autoridade que me privou das morcelas e do pão pede-me ajuda de quando em vez para questões técnicas relacionadas com a minha actividade profissional. Estarei menos disponível. Apetece-me entrar nas instalações deles de saco de azeitonas na mão e cuspir os caroços.

7 comentários:

m.camilo disse...

A minha total solidariedade.
Realmente sem alma não poderá haver vida ou, pelo menos, não fará sentido.
Há uma frase muitas vezes pronunciada aqui no Norte que apetece colocar agora neste contexto, embora pareça cínica, é capaz de fazer algum sentido: "Comemos tudo com broa" e caladinhos.

Kruzes Kanhoto disse...

É uma vergonha!!!

r. disse...

Por acaso tenho um post nos rascunhos que não publiquei pois denunciaria um desses altares não esterilizados. Só venho a Sesimbra aos fns-de-semana, mas abasteço-me desse pão alentejano para a semana toda. Faz me lembrar um pão que comprava sempre quando ia para o algarve pela serra do caldeirão.

r. disse...

É verdade... e a ginginha de óbidos, ainda resiste?

Ana Ferreira disse...

Quando te pedirem ajuda tu fazes chantagem, em nome do pão caseiro vale tudo. Ainda hoje falei da ASAE com a minha mãe enquanto mexia a farinha de milho com uma colher de pau que tem vários anos. A ASAE que se lixe e mais as suas medidas intestinas de higiene, sempre comi pão caseiro, artesanal e ainda não morri nem gerações anteriores morreram, antes pelo contrário, estão aí firmes e rijas para contar como foi.

oculos disse...

Queria poder comer pão caseiro. Infelizmente onde moro o pão há décadas deixou de ser caseiro - comerciantes de São Miguel das Matas (onde quase todos são descendentes diretos de portugueses) abriram dezenas de padarias. Me pergunto se será essa a causa de que praticamente só se consome pão francês (com nomes diversos aqui - pào de sal, pão francês, cacetinho, etc.) por aqui.
Pão caseiro... a própria expressão dá água na boca.

nuno1959 disse...

oh cambada de filisteus !! mas que motim é este ? andam as gentes benfazejas da A.S.A.E. e outros estoicos a trabalharem com afinco para o nosso bem estar e é assim que lhes agradecem ? então não há Bimbo á venda em tudo o que é buraco neste país ? ele é com codea, sem codea ..e vários cereais ? e ainda se queixam ? cambada de energúmenos .....é por causa deste nível de inconsciência que é necessário haver organismos do estado que se dediquem a proteger-nos de nós próprios.....eh, eh, eh, eh......