Eu que tantas vezes brinco com a simplicidade do "país real", presto-lhe hoje uma homenagem sentida. Circunstâncias várias, que vão por vezes para lá daquilo que é facilmente explicável, fizeram com tivesse passado a totalidade do meu dia integrado num grupo excursionista. Sim, um grupo excursionista, experiência que na minha infância vivi dezenas de vezes pela mão do meu avô, adepto fiel do turismo de excursão, pelo que sei exactamente do que falo. Um grupo de trinta e quatro "maduros" da freguesia onde resido que têm a particularidade de me ter adoptado como se fora um deles (e o sentimento é recíproco), instituiram num dos grupos desportivos da localidade o ritual semanal do depósito de um Euro, anteriormente destinado a uma sociedade de Totoloto, mas agora destinado a financiar uma excursão de objectivos marcadamente etílico-gastronómicos. Gentes simples, dadas à folia não sofisticada, filhos de uma terra que nutre pelos touros uma paixão desmesurada, qualquer (absolutamente qualquer) pretexto lhes serve para encenar coros de paso-doble ou cantares alentejanos improvisados de desgarradas e desafio, sempre com imensa graça e até alguma inusitada afinação. Quando hoje pela manhã que raiava, trinta e quatro pessoas invadiram, trajados de rigorosamente igual, as pacatíssimas ruas da Vila de Óbidos eu estava longe, muito longe, de imaginar que este grupo era capaz de por si só, virar claramente do avesso o gelo natural entre estranhos. Combinada em segundos, a estratégia de eleger um "guia" falso, alguém que tinha por missão apontar para objectos ou edifícios e passar a explicar, pasme-se, em linguagem gestual o pseudo significado histórico de um caixote do lixo, de um cinzeiro ou de um banal vaso de flores, surtiu efeitos imediatos num grupo de japoneses que deambulavam pelas mesmas ruas que imediatamente apontou um vastíssimo arsenal de câmaras aos objectos "explicados" e passou a seguir o fantástico "guia" para onde quer que ele se dirigisse, para gáudio de todos. Quando, frente à igreja, esta estranha procissão se encontrou com um terceiro grupo de mulheres espanholas o grupo irrompeu num esplêndido coro alentejano (do qual, pelo inesperado, só consegui captar um fragmento), deu-se um estranho mas agradável fenómeno. A surpresa dos japoneses, rasgados em sorrisos e gargalhadas ao perceberem a trapaça e a adesão imediata das espanholas à cantoria. Durante uns bons vinte minutos foi possível tocar-se uma estranha mescla cultural difícil de explicar. Orientais a dançar com espanhóis ao som de um coro português, risos francos e uma amálgama de gente a dirigir-se para uma das muitas tasquinhas de ginja de Óbidos. Durante vinte minutos o mundo foi um local francamente melhor. A Sociedade das Nações da ginja...
29 março 2008
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6 comentários:
Só estás perdoado por não teres também uma t-shirt do "Tá-se bem" porque tens uma Apple aí ao peito :)
Fala baixinho senão o Sá Fernandes ainda se lembra de filmar o segundo episódio convosco....
http://sol.sapo.pt/PaginaInicial/Sociedade/Interior.aspx?content_id=86878
num sei por links nisto....
Pois eu acho que a t-shirt do "ta-se bem" vinha mesmo a calhar! :) Eu tive a sorte de participar numa dessas excursões há uns anos... Não com alguém da minha família, mas com as empregadas da minha avó, com quem por acaso me identifico bastante mais do que com a minha avó :) E que me cantavam essa música para dormir quando era miúda! "Alguma gota há-de haver..."
"A tua vida dava um PDF"
Eh, eh,eh,eh...grande malha!
Francisco, o que tu queres sei eu!
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