12 abril 2008

A melopeia

É próprio dos homens cantar. É próprio das mulheres corar quando os homens cantam para lá dos limites do socialmente aceitável ainda que isso por vezes seja aceite e até incentivado por elas. Vá-se lá saber porquê, há coisas que nem vale a pena tentar investigar, mas mete na equação variáveis diversas que nem sempre se regem pelas regras matemáticas e fazem incursões imprevistas pela biologia, neste caso mais exacta a segunda que a primeira. Para o caso tanto monta, frase de Fernando II de Aragão que não mais quer dizer senão "para mim é tinto" ou "igual ao litro" mas que fica bem ao autor deste blog inserir de quando a quando (e o leitor desesperando). Aqui o observador sou eu, sou eu que miro, galo, controlo, mico ou qualquer outro calão que se lhe assemelhe. Aqui sou eu o centro do mundo desta historieta e não há mais ditos. Era eu que estava sentado num largo solarengo enquanto um grupo de homens cantava do lado de lá. Por vezes a brisa emprestava-me alguns sons, nada de suficientemente perceptível, eu ali preguiçosamente sentado ao sol, preguiçando o suficiente para não me levantar e ir para a beira deles. Só me chegavam uns humm humm, cantochão cujo som só se elevava à passagem de mulheres. Achei o dado curioso e percebi finalmente a relação do ar corado com que chegavam ao outro lado do largo. Que era solarengo mas não o suficiente para fazer surgir rosetas nas faces de donzelas e donzílias que mais parecia terem visto o diabo. À quarta mulher corada, já eu tinha cacilhado laboriosamente o meu cigarro, resolvi investigar. Aproximei-me do grupo formado por sete ou oito maganos e foi aí que me ri quando ouvi a letra do cântico.
"Na minha casa não se racha lenha, na tua racha, na tua racha"

4 comentários:

Carlos Fonseca disse...

Com cantilenas dessas, alguma menina se deixa levar??

Anónimo disse...

Que sorte tens de viver onde vives, onde os homens ainda cantam e as as mulheres ainda coram!

Pedro Aniceto disse...

Carlits não menosprezes os desígnios femininos...

r. disse...

Binha... não deve ser uma condição geográfica... já viste que para onde quer que ele se desloque acontece algo semelhante? Olha óbidos...