30 abril 2008
Oxalá
Durante quarenta e quatro rápidos anos da minha vida numa família relativamente pequena e pacífica, habituei-me, ou habitou-me a vida nem sei bem, a gerir pequenas coisas, fait-divers, atritos minúsculos que rapidamente desaguariam em questiúnculas maiores se não fossem travadas por teimosos. Desde tenros tempos que fui chamado por amigos e colegas de trabalho a dirimir questões mais ou menos desagradáveis. Habituei-me a conferenciar, munido de uma paciência proverbial que nunca soube de quem herdei, a gerir as fúrias, a aplacá-las, a reunir os desavindos em briefings separados, a escutar pacientemente cada uma das facções e a moer todo o processo e a dissecá-lo com ajuda de pinças e caldos de galinha. Por cautela e bom senso habituei-os a não tomar partidos, a não extremar posições e muitas vezes a pedir "Façam-no por mim se não o quiserem fazer por vocês mesmos". Quase sempre com sucesso. Mas a idade vai pesando e alterando o feitio dos que se zangam, a quem pedir desculpa por um acto mais ou menos irreflectido ou vão é cada vez mais difícil. Difícil também para mim que isto vai custando a todos cada vez mais. Tenho em mãos uma questão complexa em que terei obrigatoriamente de me imiscuir sob pena de males maiores e tenho um sincero receio de que os meus dotes de Kofi Annan não sejam suficientes porque também a mim a paciência se vai esgotando. Amanhã é outro dia e tudo há-de compor-se. Oxalá.
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