11 setembro 2008
A angústia do Gestor de Produto
Este título deveria ser maior, deveria ser "A angústia do gestor de produto no momento da verdade", mas não cabia e ia ficar demasiado inestético em duas linhas. Eu sou (pelo menos em teoria), Gestor de Produto de uma marca. Não precisarei de dizer qual, ela está, diria (demasiado) colada à minha imagem, sinto-me por vezes um JR do Dallas que nunca mais na vida conseguiu um papel de bonzinho. Há quem diga que eu sou um profissional de excelência, fica-me mal dizer isto até porque não é 100% verdade, o público que o julgue porque outros há que tenho a certeza de nunca serem capazes de o admitir. Mas há alturas em que a verdade se impõe sobre todas as coisas e não há RP, espírito de corpo, profissionalismo ou convicção que possam impedir uma reflexão séria (embora necessariamente curta por pudor) sobre determinados assuntos. Quando eu, pessoalmente, não concordo com uma directiva corporativa tendo a ignorá-la. Raramente "douro a pílula", encolho os ombros, suspiro, puxo de outro argumento e sigo a minha vidinha. Há muita forma de dar milho aos pombos dizem os antigos, que os novos por vezes parecem nem querer saber o que raio é um pombo quanto mais o milho. Uma das marcas para quem trabalho colocou na sua linha de produtos um determinado modelo. É um produto excepcional, no seguimento de muitos outros que a marca produziu, a história da companhia está cheia de momentos destes (também tem dos outros mas tendo a esquecer-me deles rapidamente). O cliente X comprou um destes modelos, imaginemos que por 500 Euros, azar dos Távoras deixou-o cair ao chão, partiu uma tampa, outros há que lhe dão um puxão nos headphones, avariam o miolo de um jack, tudo coisas que caem fora do âmbito da garantia. Dirige-se ao Distribuidor, pede assistência técnica, um vidro, um jack, uma ninharia qualquer. Preço de reparação: 475 Euros. O preço de substituição da unidade é único, não há fornecimento de serviços ou peças, dá cá 475 Euros. Pela reparação de um equipamento que custou 500... É inadmissível. Inaceitável. É estúpido. Desmotivante. Pessoalmente (e é sempre pessoalmente que escrevo) considero esta atitude irracional. Mas mais grave que a minha própria opinião é que o conhecimento deste facto me tira motivação para fazer promoção deste produto. E isso não há RP que resolva. É isso que me angustia.
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5 comentários:
Não é minha intenção concordar com a marca ou com o produto. Até porque, desta vez, o relatado está para além da linha que divide o que está bem do que está mal. Alerto para os seguintes produtos com os quais também comigo sucedeu o facto da reparação ser tão ou mais cara que o produto em si:
- Linhas brancas de electrónica de consumo
- Pequenos domésticos
- Electrodomésticos
- Um citroen Diane que tive e que era de 1972
- Meias (sim, meias, para pôr nos pés)
A verdade é que o sistema de produção fordista (mais ou menos adaptado tecnologicamente) resulta.
A questão a pôr é: o produto devia ser mais caro que a reparação ou a reparação mais barata que o produto?
Se falas do iPhone também não precisas ficar preocupado, não precisa de publicidade nem de promoção. Pronto eu entendi perfeitamente o que queres dizer mas... é a tal coisa... hoje é dia de jogar no euromilhões......
Hoje e amanha.
Muitas vezes os custos associados à reparação (transporte, mão de obra, peças, teste, retorno, etc.) são tais que facilmente ultrapassa o custo de mercado do produto.
Já é sabido que um automóvel vendido à peças rende mais do dobro que o total em carro novo.
Parafraseando do Reininho, são os "Pós Modernos".
Não sei sei se é um questão de "marcas" ou de "país".
Esta questão em Portugal é recorrente "Caiu, portanto está fora da garantia". Já aconteceu comigo.
Há uns anos o meu sogro esteve cerca de 2 meses em Paris e levou com ele o seu MP3. Durante a estadia, deixou-o cair e o aparelho deixou de trabalhar. Dirigiu-se a um agente para solicitar a reparação.
Resposta sem desculpas e sem factura:
Vamos enviá-lo para a fábrica. Qual a sua morada?
Passado uma semana recebeu um aparelho novo!!!
Sem comentários.
Espero que isso não se aplique à nova versão do modelo (o iPhoda-se), que na verdade me parece muito interessante e versátil.
A bateria deve durar uma eternidade e parece difícil de perder.
Eu oferecia um ao Director de Marketing, todo artilhado de laçarotes.
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