16 outubro 2008

Negro corvo negro

Vi esta manhã, e consequentemente o leitor verá também embora não obrigatoriamente esta manhã, um corvo negro. Não tem o negro corvo que eu vi esta manhã, e consequentemente o mesmo que o leitor verá quando lhe der na veneta ou lhe asar o fuso horário, nenhuma simbologia ou augúrio especial muito embora os grasnidos que emitia e que infelizmente para mim e felizmente para o leitor que os não pode ouvir, não prenunciassem grande coisa. Não que eu seja supersticioso ou acredite em coisas do oculto, nem posso, honestamente tenho tanta coisa daquelas que estão às claras que não entendo ou domino que não tenho tempo para as artes que estejam mais escondidas. A verdade, o cúmulo, o sumo da questão é que a ave estava no topo de um candeeiro, ave esta que todos, mesmo todos, excepto o pior dos cegos que sempre são os que não querem ver, assumiu uma posição, um poiso, um pouso que me fez lembrar que não estava em Lisboa. Não importa onde eu estava, não sejam cuscos, bilhardeiros ou sinónimos equiparados, não é para isso que aqui estais, se bem que eu mesmo por vezes não saiba porque razão eu mesmo estou aqui, não estava em Lisboa, pronto, não se fala mais nisso, cidade de corvos, candeeiros e milagres que incluem caravelas à deriva com tipos mortos lá dentro e que na tômbola das coisas miraculosas e menos explicadas acabam por se tornar padroeiros de cidades e, quem sabe, um dia, tenham direito a uma casinha municipal de renda baixa. O facto de um tipo estar morto à deriva numa caravela com corvos pousados não deverá constituir qualquer impedimento. É de artista, o resto é má língua. Regressemos aos nossos carneirinhos, expressão parva que só os franceses saberão explicar, a vaca fria que usamos de costume está um nadinha esquálida e custa-me tirá-la cá para fora, apesar de fria hoje está sol, não vá a bicha constipar-se. Onde é que eu ia? Ah! Ia no corvo. Eu não sou um tipo supersticioso. Posso ser parvo às vezes, tenho dias, mas supersticioso não sou e não é o simples facto de ter visto um corvo negro pousado num candeeiro que me vai fazer mudar de opinião muito embora nunca seja absolutamente tarde para começar a esparvoar. Muito menos o facto de logo a seguir a ter visto um corvo negro pousado num candeeiro ter sido interpelado por um fiscal de ar imponente e que se chamava Vicente. Rima e é verdade.

2 comentários:

Ricardo Antunes disse...

Está-se mesmo a ver... Era o Corvo Vicente, dos Bichos do Miguel Torga!

http://www.geocities.com/ail_br/criadorecriaturaoteologico.html

Ou então era este... que ia à escola!
http://narizdepalavras.blogspot.com/2007/04/o-corvo-e-os-meninos-de-vila-verde.html

m.camilo disse...

Pois. Mas já começas a associar! É da idade... :)