Sempre tive um fraquinho especial por erros catastróficos causados por pormenores insignificantes. Na vida das empresas é absolutamente comum termos pequenos sinais de alerta para catástrofes à espera da conjugação perfeita de condições e pessoas. Pequenos enganos inocentes misturados com gente sem discernimento dão por norma um resultado terrível, na melhor das hipóteses apenas hilariante. Há anos pedi a um dos operadores de logística da empresa onde então trabalhava que me expedisse uma caixa para um revendedor. Na impossibilidade de eu mesmo fazer a rotulagem da encomenda transmiti-lhe por telefone o nome e a morada do cliente. Tivemos problemas de comunicação quando tive de lhe explicar que a morada do destinatário apenas tinha dois nomes de localidades. Eram no caso, Formigosa e Gandra. Se no Formigosa não houve problemas, o mocinho já achou mais difícil a pronúncia de Gandra. "Gan quê?". "Gandra" respondi-lhe eu pacientemente. "Não percebo, dá para soletrar?". Fi-lo, mas ainda assim a coisa não correu bem. "Espera! Estás a ver como se escreve Grande Pedra?". "Sim, estou". "Ok, então tira-lhe o érre do princípio e mete antes do á final.". Desliguei e fui à minha vida. Horas depois um zeloso e diligente motorista da PostExpress telefonava-me. "Senhor Pedro Aniceto? Tenho aqui um problema com uma encomenda remetida por si, não encontro a localidade nesta rota". Eu que expedia dúzias de encomendas por mês pedi que me desse o nome do cliente. Sorri quando percebi quem era. "É que já estou cansado de perguntar e ninguém conhece a localidade de Gandra Pedra aqui na zona".
Lembrei-me disto quando há já uma semana a BBC publicou uma curiosa notícia de algo de surreal que sucedeu no País de Gales. Sim, é verdade que costumam suceder coisas surreais no País de Gales, que é um raio de um país muito conhecido por ter tipos que organizam campeonatos de lançamento de troncos e falar uma língua que quase ninguém entende a não ser eles mesmo. A coisa é simples, mas configura o tal estado do desastre à beira de acontecer. Sempre que as autoridades rodoviárias necessitam de produzir placas sinalizadoras de trânsito precisam de observar uma regra comum a muitos países com duas línguas oficiais, isto é, em Gales as placas ou sinais precisam de ter o mesmo texto em inglês e en galês. O organismo central de aprovação das placas está situado em Londres, produz o texto em inglês e envia para Gales para ver o texto traduzido. Gales responde, as placas são feitas e distribuídas. Parece simples, é simples, mas lá está o desastre à espreita. Quando o email com o texto "No entry for heavy goods vehicles. Residential site only" foi enviado pelos serviços centrais de trânsito para o tradutor galês e a resposta veio de imediato a produção foi efectuada e a placa de sinalização (na imagem) foi colocada. Só quando começaram a chover fotografias da placa nas revistas e jornais locais é que alguém percebeu o que tinha sucedido. O tradutor não estava a trabalhar, tinha deixado o auto-reply do correio electrónico ligado e a suposta tradução afixada na placa mais não era que um singelo "De momento não estou no escritório, as suas traduções serão efectuadas assim que regressar"...
04 novembro 2008
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