29 novembro 2008

O cativo efémero Tentilhão-Montez

Há meia hora que aturava, sim literalmente aturava, a entusiática descrição da captura de um Tentilhão-Montez. Para um neófito destas coisas da ornitologia, admitiria mesmo considerar-me um despassarado, é fastidioso entender que um tipo pode andar seis meses, sim seis bem descritos meses, a rondar uma figueira para apanhar um troféu vivo. Se eu entendo alguma coisa de pássaros, especializou-me a vida na última fase da existência destes, a começar precisamente no momento em que lhes arranco as penas e os passo pela frigideira bem guarnida de matéria gorda e alguma farinha que lhes venha a engrossar o molho. "Mais a mais em dia de chuva, é que é pássaro esperto que não se deixa cair na rede!" dizia-me ele pela décima vez (e já era tarde quando tinha começado a contar...). "Mas apanhei-o e vou ali agora a casa deixá-lo que está aqui dentro deste boné em cima daquela cadeira!". E isto nem tinha sido história se um vulto grande e gordo, mais precisamente a esposa do homem que me encurralara na última mesa vaga do café da aldeia, não se tivesse atirado com um suspiro sentido para cima da cadeira onde estava o boné que cobria o tentilhão-montez que estava dentro do boné. Mais nenhum piou. Nem o Montez, nem o vitorioso caçador de pássaros, nem ela, que se limitou a pedir uma bica bem quente.

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