El Rey não manda chover, manda marchar

No final dos anos setenta, existia em Portugal e Espanha um suposto prémio de qualidade chamado Troféu Tanit. Vi vários, um troféu pindérico, em que de uma base de marmorite se erguia uma haste metálica curva. (Infelizmente não tenho imagens mas estou certo de as encontrar numa rápida incursão às Selecções do Reader's Digest dessa década). Os empresários da época adoravam, pura e simplesmente babavam-se por um Tanit, fosse para exibir nos anúncios de imprensa, ou para o pendurar em prateleiras mínimas, à frente das quais davam entrevistas, vestindo as belas camisas Triple Marfel ou Fórmula1. Os produtos podiam ser uma merda, o importante era espetar um Tanit nos olhos do público... Quando perdi a inocência em termos de Marketing e percebi que o Tanit era comprado pelas marcas e empresas fiquei danado. Danado! Tão danado como no dia em que descobri que o hóquei em patins era tudo menos um desporto suave, sendo ao vivo completamente diferente do que via na TV. Passados quase trinta anos sobre este meu desgosto, percebo que poucas coisas mudam assim tanto. O Tanit chama-se hoje ISO qualquer coisinha e nos três processos de implementação que tenho seguido de perto só não há camisas Triple Marfel... Continua a valer tudo. As marcas continuam a comprar um símbolo. As entidades certificadoras são elas mesmas um negócio, e quem audita "a sério" corre o risco de não sobreviver. O que é extremamente interessante do ponto de vista sociológico.

Tweet