27 julho 2009
D.João II era um tratado...
De conhecimento geral do estimado público que dele já ouviu falar pelo menos umas trezentas vezes na vida, o Tratado de Tordesilhas lavrado a 4 de Setembro de 1494, obra-prima da diplomacia portuguesa do Séc.XV, que enumerava as cláusulas da chamada divisão do globo, com todos os pormenores revelados e mais ainda os que ficaram por revelar no que à arte da ocultação de conhecimentos de parte a parte entre ambas as Coroas, a portuguesa e a espanhola, assentava na definição de uma linha imaginária que dividia a esfera terrestre em duas partes, pondo assim termo à eterna disputa reclamada pelos descobridores de ambos os países. Este tratado fora já precedido de outro, infelizmente quase nunca recordado na história lusitana, não menos importante e não menos global em termos de objectivo. Falo do Tratado de Alcáçovas, firmado em 1479, em que uma outra linha imaginária foi traçada, desta vez definindo o hemisfério Norte e o hemisfério Sul em termos de descobertas. Ponto essencial na navegação portuguesa rumo à costa de África, as Canárias eram um ponto estratégico de apoio ao comércio de mercadorias e ao não menos importante negócio esclavagista. O Tratado de Alcáçovas veio colocar fim a uma série de disputas entre os dois reinos, abdicando Portugal da posse do arquipélago e de todas as descobertas a Norte destas ilhas (excepção feita a Açores, Madeira, Ceuta e Arzila) e garantindo a posse de todos os territórios a Sul no Continente africano entretanto reclamados por Portugal (Guiné, Mina e Cabo Verde). Veio também "arrumar as casas reais" portuguesa e espanhola com a resolução de conflitos de sucessão e reclamantes de trono nos dois países. A filha dos Reis Católicos viu o seu casamento com Afonso acordado em forma de tratado, bem como o enormíssimo dote que os pais da noiva firmaram na assinatura, o que permitiu a Portugal converter uma indemnização de guerra.
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11 comentários:
e também era "tratado" por Isabel a Católica por "El Hombre"! lol
E teve também aquele tratado anterior ao de Tordesilhas, não? Aquele que foi "corrigido" por este último, com o qual Portugal iria acabar ficando sem nada na América, já que a linha ficava bem a leste daquela definada pelo de Tordesilhas.
Esse "episódio" já pertence ao de Tordesilhas. O meridiano imagonário nunca foi aceite por D.João II que ao que parece sabia muito mais do que nos ensinaram. Aliás, eu defendo que Cabral apenas oficializar o acto do achamento...
Isso, e me parece que o meridiano anterior foi fixado por uma bula papal...
Não. Os Tratados eram "abençoados" por decreto Papal e só depois disse se tornavam oficiais. A primeira divisão nunca foi aceite por D.João II, que sempre insistiu em "empurrar" a linha mais 360 milhas (ele TINHA de saber...), e nunca chegou a ser lavrada oficialmente.
Teve sim, a Bula Inter Coetera, onde era estabelecida uma linha de demarcação.
O inter caetera era uma bula sem valor de Tratado, aliás nunca foi aceite por Portugal e que levou poucos anos depois à birra de Tordesilhas. O inter caetera não foi mais do que o Papa a reconhecer a posse das terras descobertas por Colombo. Era uma espécie de "toma lá, já não te devo nada" papal.
A brincar, a brincar, foi com um desses "toma lá que já não te devo nada" que o Papa ofereceu um franchise de Portugal ao Conde D.Henrique, pai do nosso primeiro rei, Afonso Henriques, como recompensa de favores prestados nas Cruzadas. Ofereceu-lhe um pequeno condado (nunca soube quanto media de área um condado) e disse-lhe "Bom, estás por tua conta, tudo o que roubares aos árabes fica a ser teu (desde que mandes para cá uma percentagem!)
desde que mandes para cá uma percentagem
É das coisas que mais impressão me faz em Fátima...
São mais as vozes do que as nozes...
Antes de olhar uma segunda vez para o título, tenho de admitir que li "D João II era um tarado...".
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