19 janeiro 2010

Eu que nunca vi mar, nunca lhe senti o frio

E dá-se o extraordinário acaso de hoje ter tido o privilégio de ver a trabalhar dois artistas de dois ramos profissionais distintos, ambos a ver a actividade à beira da extinção: Um calafate e um calceteiro. Ambos, como já escrevi, artistas, ambos com idade suficiente para gozarem já das respectivas reformas. Ao calafate, com quem falo quase todos os dias, não falta nem trabalho nem cansaço; do calceteiro, quase tolhido pela doença, diz que só o faz pelo gozo que ainda lhe dá. E ali fiquei eu, minutos escorridos a fio, a olhar para a arte de correr estopa à força de maço e ferro e ao outro, ao outro o gozo supremo de ouvir dizer "vais partir por ali", martelada firme, os dedos seguros sabe-se lá como, as artroses a querer contrariar a pontaria. E eu ali, a ver vedar um costado, e a ver surgir de um paralelipípedo um, um não, centenas de hexágonos quase perfeitos.

1 comentário:

bom amigo disse...

Quantos e quantos pisam esta arte sem nunca se aperceberem de tanta beleza ,fostes buscar dois exemplos e eu poderia acrescentar mais alguns casos de arte cada vez mais rara o ourives e o funileiro homens que fazem magia com as suas próprias mãos.

MAGIA QUE EU TANTO APRECIO