É possível que um pequeno som, uma harmonia, um trejeito vocal nas humanas cordas façam ferver a panela do caldo primordial de uma alma portuguesa? Sim, não é a primeira vez que me acontece, escutar, mesmo que de raspão uma melodia mesmo que apenas instrumental e despertar cá dentro o Alfredo Marceneiro adormecido, capaz de me fazer gingar a voz e enfunar o virtual lenço no pescoço... Hoje mesmo, ao escutar pela primeiríssima vez uma balada do novo disco de Tim, Companheiros de Aventura, de título "O amor (Sem se saber bem porquê), deparei com uma voz feminina, madura, grave e tremendamente fadista em algumas nuances. Quando me acalmei do encantamento desse casamento de um dueto com Tim e fui em busca do nome por detrás da voz, foi sem surpresa que descobri o nome de Celeste Rodrigues. Para os mais distraídos, Celeste Rodrigues é a irmã mais nova de Amália Rodrigues, que tendo seguido as pisadas da irmã na opção profissional do Fado, trilhou a via mais castiça, há quem diga que mais pura, do que aquela haveria de levar Amália ao estrelato. É precisamente esse Fado mais castiço, mais vadio, mais "cá de dentro" do que a sua versão mais moderna, que me arrepia, que me emociona verdadeiramente até às lágrimas e que chega, em determinadas ocasiões a fazer-me crer que sei cantá-lo. A mim e a milhares de portugueses. Porque é aquele que toca a corda certa que nos desmancha. Não são precisas velas, guitarras ou violas. Basta uma voz e um jeito de laringe. E alma, a alma primordial.
"O amor, é uma coisa muito boa
que bate numa pessoa,
sem se saber bem porquê.
É estranho, às vezes fica bem escondido
outras é doido varrido, sem se saber bem porquê.
Então, o mundo fica mais bonito,
a cada um seu favorito, e eu bem perto de ti.
Paixão, é uma coisa assim bem forte,
que nos faz perder o Norte, ate chega a magoar.
E é estranho, tudo perde o seu sentido
vira fruto proibido, sem se saber bem porquê."
04 abril 2010
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2 comentários:
:)
Só agora ouvi..
Que voz divinal, e o mesmo para o cd..
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