16 março 2011

A menina do Rádio

Não sei que idade ela tinha. Não sou bom a adivinhar, nem tento, que os resultados são quase sempre desastrosos. Tinha os cabelos brancos a espreitar por debaixo de um louro falso e interessou-se por mim ou pelo que eu fazia nas lides com uma dock de iPhone. Perguntou-me, enquanto eu apertava as goelas ao som de Linkin Park (Burning in the skies), algo que eu não percebi. Rodei o botão, diminuindo a torrente sonora e disse-lhe que não tinha entendido o que me fora questionado. "Essas coisas", disse ela. "Essas coisas também tocam outras músicas, não tocam?". Sorri, condescendente. Da minha Playlist discorri um faduncho. O do Estudante. Ela sorriu. Sorriu muito enquanto ecoava um glorioso "Ahhhh!" de satisfação. E falou. Falou muito. De um rádio enorme (com botões grandes) que lá tinha em casa. Que todos tivemos em casa. "Daqueles que é preciso esperar um bocadinho, sabe?". Sei. E lembrei-lhe António Silva e da onda que bate na lâmpada e recua. Trecho que ela sabia até melhor do que eu. Rimo-nos. Rimo-nos enquanto repetíamos o diálogo encenado de trejeitos do actor original. Mãos, muitas mãos. E risos, que é sempre importante. Despedi-me dela com um abraço. Há dias assim, em que tudo está negro mas de quando em vez rompe um raio de sol.

4 comentários:

André disse...

E não sacou o facebook da moça? Ó pá...

kincas disse...

Era a Dona Rosa?
;)

P disse...

Magia da rádio, de outra maneira. :-)
Abraço

Matrioska disse...

Lindo, simplesmente maravilhoso :)