29 abril 2011

Geek, disse ele...

Há muitos anos, mesmo muitos, tive um Professor de Filosofia (onde andas, Manuel Sá Couto?) que. em pleno ensino nocturno, pegava nos alunos e os levava a um Pub de Lisboa e aí lhes teorizava sobre Freud e alguns outros cromos. É verdade que os pensamentos de Carl Jung se tornam muito mais perceptíveis a partir do terceiro Gin, mas isso não implica que alunos e professores produzissem menos do que o esperado. Recordo-me bem de uma certa noite todo um bar, funcionário incluído, discutir Pavlov de forma alterosa e de um senhor de gravata minúscula nos acusar de tentarmos parecer que sabíamos mais do que efectivamente tínhamos conseguido aprender. Defendia ele que bastava um bom stock de frases e vocabulário "esquisito" para darmos ares de sabichões, coisa que efectivamente não éramos, e alguns de nós não ousaríamos vir a ser.

Foi numa dessas noites de Gin que Manuel Sá Couto, depois de me ensinar a técnica correcta de espremer uma fatia de limão com uma varinha de plástico ridícula, me contou uma fábula que não esqueci passado todo este tempo:

"Era uma vez um homem que não sabia de que era composta a água. Aflito, consultou o professor da aldeia, que, paternalmente explicou ao homem que a água não passava de um composto de moléculas de oxigénio e de hidrogénio numa determinada proporção. O homem agradeceu muito e saiu. A partir daquele momento, dizia o professor, o homem aumentara o seu desconhecimento. Entrara não sabendo o que era uma coisa, saíra desconhecendo o que eram mais três. A água, o oxigénio e o hidrogénio..."

Lembro-me disto quase todos os dias, sobretudo quando falo em público sobre questões técnicas. Abomino o "informatiquês", mas é uma batalha que estou a perder. Pegue-se num exemplo simples: Um texto de pouca extensão mas que é um bom exemplo de linguagem que o comum mortal pode não dominar. E não domina. Fiz uma sondagem rápida a pouco mais de quatro mil pessoas. Pedi que levantasse o braço quem não soubesse o significado do termo "crowdsourcing". Quarenta e sete pessoas responderam "De facto não sei".

E agora, pergunto eu? Temos de obrigar os receptores a ir em busca do significado das expressões ou ensinamos-lhe nós, os emissores (como de resto aprendi nos livros que é como se deve fazer...). Desistimos?

2 comentários:

Ricardo Antunes disse...

Filosofia no Bar... E ainda me vêm falar em Novas Oportunidades...

André disse...

Bela posta!