03 outubro 2012

De quando em vez, faz-se justiça


M., os jornais nunca dirão o que realmente se passou. E é pena. É pena que nunca se venha a saber que uma das maiores organizações financeiras portuguesas se ocupava também de assuntos de cariz criminal  e que algumas dessas operações envolviam a cobertura de figuras da Sociedade portuguesa que hoje ocupariam capas e páginas de jornais se o assunto fosse realmente ventilado. Notícias que nunca verão a luz do dia porque provocariam terramotos de factos que fariam tremer muita gente, alguma dela que tenho hoje vergonha de ter admirado. Porque nos faltam verdadeiramente jornalistas capazes de arriscar.

M. deparou-se há anos com situações anómalas na instituição onde trabalhava, onde era feliz, e onde planeava ter feito uma carreira longa e próspera. Quando M. quis perceber porque é que nas instalações das quais era responsável, passavam contentores de materiais ilegais e absolutamente nada consentâneos com as actividades da empresa, abriu a caixa de Pandora que o ia destruindo fisicamente. Pressões intoleráveis, suspensão de funções, ameaças de morte, perseguições, fariam qualquer um de nós calar o que quer que tivéssemos para dizer e prosseguir as nossas vidas. Isto para evitar problemas de índole psiquiátrica, os mesmos de que M. sofreu, sozinho, quando pouca gente parecia acreditar nele. M. não desistiu. Sabe Deus e e ele mesmo a que custo. Quinze anos de sofrimento e angústia, quinze anos que não são quinze dias.

M. não estava "descalço", sabia exactamente que não podia dar em falso passo algum e documentou tudo o que afirmava. Não me sobra qualquer dúvida de que foi essa precaução que levou há dias um Tribunal a dar-lhe razão. A mesma razão que lhe negaram durante 15 dolorosos e longos anos. É pena que se não vá mais longe. Muito mais longe. Talvez mudássemos de opinião a respeito de algumas das pessoas que nos habituámos a admirar. E que passássemos a admirar algumas pessoas que não conhecemos.

Quando há dias li este mesmo título num dos jornais diários, pensei "E se fosse o M.?". Acabei de confirmar que sim, que era a mesma pessoa. E fico extremamente feliz por isso. Tudo o que lhe possam agora pagar, é pouco. Muito pouco.

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