20 junho 2013

Oculista Central das Avenidas



Há longos meses, num estúpido acidente ocorrido no momento em que o Vitor Domingos tentava que eu experimentasse um capacete de Darth Vader (sim, há coisas que só me sucedem a mim...), parti a armação dos meus óculos. Quem me conhece sabe que eu sou completamente dependente deles e que cada renovação tem um impacto tremendo nas minhas finanças, impacto algo semelhante à construção de uma barragem num pequeno Estado africano. Mas tinha de ser. Um
pedacinho antes de desembainhar o meu sabre de luz e cortar a cabeça do Vítor, falei com o meu anjo da guarda optométrico e expliquei-lhe a urgência. Era necessário obter umas armações Strellson para transplantar as lentes que estavam em óptimo estado. Começou neste momento um drama sequencial. A Strellson, decidira suspender o fornecimento de produtos de óptica (bastards!) e não garantia o fornecimento de uma armação igual ao seu Distribuidor português. Quando a empresa que me fornece estes produtos me disse isto, mandei avançar a produção de um par de lentes novo, prescrição igual à anterior. E chateei a Strellson. Bastante. Infelizmente a Strellson passou, a determinada altura, a ignorar os meus pedidos (tinha-lhes pedido que verificassem a disponibilidade da armação em qualquer ponto do globo que ainda a pudesse ter em stock) e fiquei no square one da minha busca. Entretanto a produção dos óculos de substituição avançou. Por mera precaução e uma vez que não estava disposto a ficar refém da armação, decidi adquirir uma armação suplente, não fosse encontrar-me novamente com o Vítor Domingos e ele dizer-me "Tens de experimentar este meu capacete Darth Vader!". Feito.
Tinha uns óculos novos, uma armação suplente sem lentes e um par de lentes cortadas para uma armação partida que não conseguia substituir. E uma armação Strellson escavacada.

Mas continuava sem ver. Decentemente, pelo menos, se pensarmos que a minha acuidade visual nunca foi grande coisa e que a idade não perdoa e nada traz de melhor. A verdade é que não via decentemente com estes óculos, o que, mesmo para um tipo experimentado como eu em coisas de vista, era no mínimo estranho. Faço as devidas confirmações. Comparo fichas, prescrições, dados de graduação. Chateio a cabeça a conhecidos, peço que me analisem todas as lentes, procuro uma justificação para esta perda de qualidade de vida.

Nada. Tudo confere, tudo está de acordo com o que devia de estar. Continuo sem conseguir entender o que é que causa esta diferença de percepção e os meus níveis de irritação atingem maximos históricos no momento em que percebo que com a armação partida e as lentes antigas, a visão é normal.

Convoco uma vez mais os técnicos. Tem de haver uma explicação e quero muito sentar-me com alguém que, com a devida calma, tente ouvir a minha história sem pensar que eu perdi o juízo ou que estou a tentar contar uma história de fantasia. Encontrei alguém disposto a ouvir-me. Calma e pausadamente reconstruimos a vida destes óculos e das respectivas lentes. Muitos minutos depois, quando eu pensava que ia ouvir um "Pois, mas não há diferença, não podemos fazer nada...", o técnico, que tinha passado a última meia hora a tentar reconfigurar a geometria dos meus óculos, disse-me "Talvez eu já tenha percebido o que se passou..."

E explicou-me coisas absolutamente maravilhosas sobre alturas de ponte, a estreiteza da cana do meu nariz, pontos de focagem e convergência e sobretudo de como as minhas armações novas não conseguiam colocar no centro do olho o ponto óptimo de focagem. "Mas está a querer dizer-me que basicamente estas armações não deveriam nunca ter estas lentes?". Disse-me que sim, que era isso. Assim. De forma simples e clara como a visão que eu queria ter.

E mais do que explicar, apontou soluções. Novas lentes (com a mesma graduação), novas armações que respeitassem todas aquelas coisas que me dissera anteriormente. E um tipo fica assim como que atordoado, quando não deveria ficá-lo porque em boa verdade eu procurava uma explicação.

Dizem-me "Traz tudo. As velhas, as novas, as que partiste, as que nunca usaste. Vamos resolver o problema de vez". Isto é de um profissionalismo brutal. Daqueles que gostaríamos de encontrar em todos os serviços que usamos. Tentei explicar que isto se arrasta há quase um ano e meio, que não é justo que a minha inércia, aliada à incapacidade técnica de perceber o que se passava, prejudicasse uma das partes. "Traz tudo. Amanhã às 18:30". 

Conheço esta empresa desde há quase 35 anos. Na única vez em que algo correu menos satisfatoriamente, disseram "Estamos cá, vamos resolver". Não era justo que não contasse publicamente o quão satisfeito estou agora. Porque são gente boa e grandes profissionais. Chamam-se Oculista Central das Avenidas e é uma das ópticas mais antigas e conceituadas de Lisboa.

Sem comentários: