15 julho 2013

Agostinho da Silva

Não deve haver português que eu mais cite do que Agostinho da Silva. Porque, mesmo sendo eu menino, quando o ouvi pela primeira vez, fiquei fascinado. Agostinho da Silva era o professor que eu poucas vezes tive, o avô que eu também gostaria de ter tido e a pessoa que me disse, ali ao Príncipe Real, entre gatos e pombos, num dia em que eu estava muito nervoso por ir conhecer o meu segundo ídolo televisivo (o primeiro tinha sido Vitorino Nemésio - que morava numa rua vizinha e a quem nunca tive coragem de dirigir palavra), dizia eu, perguntou-me ele "Se não sabemos, porque é que não perguntamos?", e eu passei o resto da minha vida a lamentar não lhe ter perguntado mais coisas, das do saber chato e das outras, daquelas que me fizeram falar com ele sobre seiras de lagar e de bagaço de azeitona e de aguardente, magias que já conhecia antes de as ter sequer provado com olhos de saber ou garganta de engolir. Quando tive idade para isso já era tarde, nunca mais o vi no Príncipe Real entre pombos e gatos, vim mais tarde a saber que morrera, excepto na minha cabeça, que ainda há dias me lembrei do "se não sabemos, porque é que não perguntamos?", pergunta que uso tantas vezes. Ainda hoje de manhã, numa dúvida de mecânica, do mais básico que pode haver, me lembrei disto e fui perguntar. E quem me respondeu, fê-lo sem truques, dogmas ou dissimulações. Como se de Agostinho tivesse aprendido algo. "As escolas deviam ter as portas sempre abertas. Não sabíamos algo e íamos lá perguntar"

2 comentários:

Ricardo Antunes disse...

Não fosse ele um dos patronos do meu blogue... http://prosear.blogs.sapo.pt/tag/agostinho+da+silva

É curioso como, tendo nós crescido em ambientes tão diferentes, tantas vezes saboreamos da mesma forma algumas coisas... Quiçá genes de um certo ambiente filosófico do "Olheiro"...

francisco feijó delgado disse...

De certo modo, a Internet pode ser uma escola de portas sempre abertas!