05 setembro 2005

De pequenino se sopra o destino

B. estava atarefadíssima atrás do balcão. Atarefada e orgulhosa da sua missão hoteleira de atender adultos que pedem cafés, águas, whiskies e derivados mas para os quais não tem altura, seja para chegar à máquina, seja para alcançar as prateleiras. Sobram portanto para a sua azáfama as bebidas naturais, as que estão nos baixos do balcão, gomas e gelados muitíssimo mais fáceis de serem agarradas pelas mãos pequeninas. "Duas gomas e um iogurte líquido se faz favor!" pede quase aos gritos o pequeno cliente, como forma de compensar a pouca altura que impede que a sua cabeça loura possa ser vista do lado de lá vidro do balcão. B. agarra no pequeno saco de plástico que há-de servir de embrulho às gomas, na pequena pinça de plástico com que as retirará da caixa-expositor e prepara-se para as servir. Mas os nervos da função são grandes, a caixa das gomas de tão bem fechada também não ajuda, são muitas dificuldades para agarrar tudo ao mesmo tempo, é muito mar para tão pequena nau. Ouço um "Ops!" e vejo a pequena pinça de plástico voar artisticamente em direcção ao chão. Isto é muito complicado para quando se está servindo ao balcão em cima de uma grade vazia de Coca Cola. É preciso descer, apanhar a pinça , voltar a subir, entregar os pedidos, receber o dinheiro, sendo que a registadora está longe, muito longe, arrastar a grade, voltar a subir, fazer o troco, descer, arrastar a grade, voltar a subir e dar (finalmente) a missão por concluída. Deixei terminar a venda e numa altura em que o balcão não tem ninguém digo a B. que preciso de ter uma conversa em particular com ela. B. desce do seu local de trabalho, dá a volta ao balcão e vem ter comigo. Olha, há bocado, quando a tua mana deixou cair a chupeta no chão, e antes de lha dares outra vez, o que é que foste fazer à cozinha? "Fui lavar!" Muito bem, e quando vendeste as gomas ao miúdo, porque é que não foste lavar a pinça de plástico que caiu ao chão? B., corou, sentindo-se apanhada em falta. Mas não perde o ar "profissional" nem por um instante. "Ah, mas as minhas irmãs não são clientes!"

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