"E no Sábado, como é? Ganhamos?". Não sei, não quero arriscar palpites, tenho medo de me decepcionar. Vamos devagar, devagarinho, as coisas têm corrido bem, se eu não me mostrar demasiado interessado talvez ganhemos, quem sabe? Não foi isto que eu lhe disse, apenas pensei, torci o nariz mostrando a minha falta de crença, quem sabe os deuses contrariam-me e ganhamos só para eu ficar contente contra a corrente do pensamento. À minha frente está um homem de noventa e três anos, que para mim só tem noventa e três anos desde as oito e meia de Domingo passado, porque não acreditei que apesar da bengala, do olhar baço e da notória dificuldade em mover-se, aquele corpo tivesse já quase um século de vida. "Ganhamos, Domingo ganhamos!". Despediu-se da forma costumeira, a mão na pala do boné surrado, mas voltou atrás para justificar a crença. "Quando eu era rapaz novo, mestre de um batelão em Alcântara, a malta ganhava muito mal. Doze escudos à semana! O que nos safava, o dinheiro que rendia, aquele que se via vinha das horas. O patrão dizia Oh Manel, esta noite ficas às ordens e a gente não sabia quando despegava do serviço. Nos fins do mês era um problema. O dinheiro faltava e eu calhava-me sonhar que no dia seguinte ficava lá às ordens. Era certinho, no dia seguinte calhava-me a mim e que ladino eu ficava!". Pergunto-lhe se já sonhou esta semana. "Não, mas garanto-lhe que Sexta Feira vou para a cama mais cedo para que o sonho me encontre, não queira ele aparecer e eu ande na vadiagem...". Ele sai do meu espaço e eu fico a pensar que não podemos perder com tamanha fé.
28 junho 2006
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