01 setembro 2006

A repulsa

Eu investigava tipos e variedades de arroz, do carolino ao agulha, do basmati ao integral, ele revirava sacos de comida de cão, numa busca frenética como se o adiar do fim dos tempos pudesse ser conseguido pelo achamento do tipo certo de granulado. Ali estávamos os dois, de pé, no lajedo frio do supermercado, tentando ignorar mutuamente a nossa presença no mesmo metro quadrado. Quando a minha privacidade mínima começou a ser ameaçada pelo seu cotovelo que se brandia com demasiado vigor, olhámo-nos em mútuo desafio. Sujíssimo. Fedia. Afastei-me em auto defesa e por auto piedade. Das suas mãos negras de lixo de várias gerações, pendiam ainda dois sacos de Friskies. Entre dentes bramava para com os seus botões: "Ladrões, ainda a semana passada custava um euro e cinquenta e cinco! Agora, toma! Um e noventa e cinco! Saloios! Saloios! E depois ainda mandam a tropa para o Líbano! Sim, alguém tem que pagar as obras nas casinhas dos tipos que andam lá fora em guerra. Saloios!".

14 comentários:

botinhas disse...

Arroz, é agulha!

Anónimo disse...

Para mim, Basmati. Com qual se acompanha o Rodovalho? Ou o Rodovalho não se come? Ou não se acompanha?
Que chato, o peixe do caraças...

Ana Ferreira disse...

Tinhas que fazer um post sobre arroz justamente hoje que fiz uma visita a um nutricionista??? Só posso comer 2 a 3 colheres de sopa de arroz, RASAS, e não é todos os dias....

Rosa dos Ventos disse...

Para mim desde que fique malandro pode ser de qualquer espécie!

Pedro Aniceto disse...

Uma colher (presumo que de sopa) rasa de arroz são meia dúzia de grãos... Parece pouco mas é a quantidade que uma família etíope consome durante um mês... Pronto, esta imagem dramática servir-te-á de conforto de cada vez que pensares nisso. (Digo eu, que não estou a dieta...)

Pedro Aniceto disse...

O rodovalho acompanha com outros rodovalhos, ora essa! :)

Anónimo disse...

Na semana passada, o senhor Pereira veio de Monção e troxe de lá um galo que fez de cabidela. A marca e a variedade do arroz? Sei lá! Mas que estava de chorar por mais lá isso estava. Ai, até estou a salivar...

Pedro Aniceto disse...

Acho que nunca te disse isto, mas ainda tu não deitavas olhares maliciosos à filha do Sr.Pereira já eu comia sandes de queio fresco ao balcão do "Terceiro Canal"... Abraço

Anónimo disse...

O mundo é pequeno...

Por acaso já ia um queijinho!

O Gato Preto disse...

Isto do arroz mexe com as pessoas, pelos vistos.
Vou agora ensinar como se faz o arroz industrialmente na restauração.
Cozer o arroz, tirar do lume antes que coza demais, levar a panela para o lava-louças e abrir a agua fria para o lavar até que toda a goma desapareça do arroz.
Fica pronto para guardar no frigorifico.
De seguida quando se quer usar basta saltear numa frigideira com molho a gosto ou não.
Sempre soltinho.
Quanto às teorias da conspiração, eu na minha agência do Totoloto ouço as mais elaboradas que a imaginação humana consegue produzir, em relação ao jogo, de rebolar a rir.

Pedro Aniceto disse...

Uma das mais deliciosas teorias da conspiração sobre o Totoloto ouvi-a num café há alguns anos. Dizia um velhote que uma determinada mancha escura na bola 49 demonstrava claramente que a bola era manipulada com "algum chumbinho que lhe metem". De facto havia uma mancha no 49, mas veio a demonstrar-se que de facto o aparelho de TV tinha o ecran um verdadeiro nojo... (A caixa de comentários deste blog está a ficar bem mais interessante de ler que os próprios posts!)

Anónimo disse...

E depois há sempre aqueles tipos que até acertam no seis mas, azar dos azares, nunca chegam a tempo de validar o boletim... :)

Hesed disse...

Chamo a atenção que o rodovalho (Scophthalmus rhombus (Linnaeus, 1758), peixe muito apreciado nas ilhas britânicas, deve ser cozido inteiro num "court bouillon" e acompanhado por batatas salteadas em manteiga e polvilhadas com salsa. Nunca com qualquer tipo de arroz.

Pedro Aniceto disse...

Eu gosto deste extremismo culinário... Se me apetecer eu como até o rodovalho com esparguete! :)