Zacarias, Zenóbio, Zulmira e Pedro. Quis o destino, esse malandro valdevinos rei da abencerragem e ao mesmo tempo da abençoada desordenação alfabética, que se viesse esta singular concentração de seres humanos a juntar em tardes de estudo, se entendermos como estudo aquele período de desorientação intestinal que antecede de véspera a data do temido exame escolar, por via de uma insólita turma do ensino secundário, grupo aliás que fazia jus ao cardinal do ensino, para quem o mesmo era absoluta e verdadeiramente secundário.
Quis o destino, e o destino quando quer, marca a hora e espero que esteja já em invernais parâmetros quando não chegará sistematicamente atrasado a muitos compromissos sociais, li algures e é capaz de ser verdade, que estas quatro almas se fundissem (muitas outras houve em que de facto se fundiram) numa só, una e facilmente divisível amálgama de temor e ignorância, quando na pedra da cátedra eram chamados à razão e por vezes à pedra ela mesma. Só perdiam a unicidade quando a pauta liceal os escalava pelo nome próprio, sendo que os últimos são por norma os primeiros e eu, malfadado pê de sua graça, avançava com temor e apagada e vil angústia para as mãos do mestre, amaldiçoando pais e padrinhos que bem podiam ter-me empurrado para as profundezas do alfabeto em vez de me fazer avançar logo ali, a mim, para a frente de batalha. Nem por um só instante me recordaria do exército de Antónios, Anas, Afonsos e Ambrósios que tinham tombado nas pedagógicas linhas antes de mim, eram como que varridos da memória, autênticos soldados desconhecidos das guerras examinadoras.
Lembro-me de haver um Serafim, que também ele para fazer justiça ao seu nome, algures pelo segundo período bateu asas e voou, quem sabe se para parte incerta ou para o céu dos estudantes que também o haverá. Como eram boas as maçãs que o Serafim levava na merenda, desculparás Serafim se te não reconhecer na rua, mas a brincar a brincar já passaram trinta anos, estava aqui capaz de recordar as rosadas cores das maçãs camoesas da tua bem aviada merenda, mas do próprio e das suas borbulhas purulentas da acne juvenil, não conseguiria evocar um só ponto negro que fosse. Lembro-me que da letra éfe para a frente era um deserto de nomes, fossem os Franciscos e os Fredericos chamados, e ali estava eu, de sentidos em alerta, poros inundados de suor temeroso e pouco mais, que o resto era a tentativa de superar a humilhação da prova e nunca, mas nunca, abandonar a sala sem que o trio maravilha que se me seguia conseguisse fazer o mesmo. A Zulmira baixava os olhos na dúvida da resposta, logo os outros se concentravam na questão, tentando mentalmente passar-lhe as informações necessárias, o que por regra nunca acontecia, levei anos a perceber que isso da telepatia (e de muitas outros factos da vidinha) só resulta nos filmes.
O Zenóbio, esse era certinho como destino, fatal como os impostos, sabia sempre tudo (e pouco mais do que isso) o que perguntavam aos outros três, parecia uma maldição, dele mesmo dizia que não tinha sorte, até no nome, Zenóbio, ainda hoje não lhe conheço a origem da nomenclatura, pura preguiça pois claro, que qualquer dia vou "à pregunta" como me dizia o meu avô Joaquim que se safou com toda a certeza a estas escolares agruras por ter apenas a quarta classe e já gozas. Não sei de vocês, Zenóbio, Zacarias e Zulmira. Não sei se sois vivos, se sois mortos, gordos, magros ou a caminho de algum ginásio, se continuais ou não a peregrinação dos últimos a serem chamados a qualquer coisa. Não importa. Não importa mesmo nada. Tudo o que sei é que esta tarde vos imaginei e consequentemente imaginei-nos a todos nós, quando empurrei a vidraça da porta de um sujo e esconso prédio em Lisboa e deparei com uma lustrosa placa negra que tinha inscrito "Zenóglio Oliveira - Advogados". Este também deve ter passado maus bocados e era bonito que o inscrevêssemos no clube dos últimos. Até porque indiscutivelmente deve saber bem o que isso significa...
Quis o destino, e o destino quando quer, marca a hora e espero que esteja já em invernais parâmetros quando não chegará sistematicamente atrasado a muitos compromissos sociais, li algures e é capaz de ser verdade, que estas quatro almas se fundissem (muitas outras houve em que de facto se fundiram) numa só, una e facilmente divisível amálgama de temor e ignorância, quando na pedra da cátedra eram chamados à razão e por vezes à pedra ela mesma. Só perdiam a unicidade quando a pauta liceal os escalava pelo nome próprio, sendo que os últimos são por norma os primeiros e eu, malfadado pê de sua graça, avançava com temor e apagada e vil angústia para as mãos do mestre, amaldiçoando pais e padrinhos que bem podiam ter-me empurrado para as profundezas do alfabeto em vez de me fazer avançar logo ali, a mim, para a frente de batalha. Nem por um só instante me recordaria do exército de Antónios, Anas, Afonsos e Ambrósios que tinham tombado nas pedagógicas linhas antes de mim, eram como que varridos da memória, autênticos soldados desconhecidos das guerras examinadoras.
Lembro-me de haver um Serafim, que também ele para fazer justiça ao seu nome, algures pelo segundo período bateu asas e voou, quem sabe se para parte incerta ou para o céu dos estudantes que também o haverá. Como eram boas as maçãs que o Serafim levava na merenda, desculparás Serafim se te não reconhecer na rua, mas a brincar a brincar já passaram trinta anos, estava aqui capaz de recordar as rosadas cores das maçãs camoesas da tua bem aviada merenda, mas do próprio e das suas borbulhas purulentas da acne juvenil, não conseguiria evocar um só ponto negro que fosse. Lembro-me que da letra éfe para a frente era um deserto de nomes, fossem os Franciscos e os Fredericos chamados, e ali estava eu, de sentidos em alerta, poros inundados de suor temeroso e pouco mais, que o resto era a tentativa de superar a humilhação da prova e nunca, mas nunca, abandonar a sala sem que o trio maravilha que se me seguia conseguisse fazer o mesmo. A Zulmira baixava os olhos na dúvida da resposta, logo os outros se concentravam na questão, tentando mentalmente passar-lhe as informações necessárias, o que por regra nunca acontecia, levei anos a perceber que isso da telepatia (e de muitas outros factos da vidinha) só resulta nos filmes.
O Zenóbio, esse era certinho como destino, fatal como os impostos, sabia sempre tudo (e pouco mais do que isso) o que perguntavam aos outros três, parecia uma maldição, dele mesmo dizia que não tinha sorte, até no nome, Zenóbio, ainda hoje não lhe conheço a origem da nomenclatura, pura preguiça pois claro, que qualquer dia vou "à pregunta" como me dizia o meu avô Joaquim que se safou com toda a certeza a estas escolares agruras por ter apenas a quarta classe e já gozas. Não sei de vocês, Zenóbio, Zacarias e Zulmira. Não sei se sois vivos, se sois mortos, gordos, magros ou a caminho de algum ginásio, se continuais ou não a peregrinação dos últimos a serem chamados a qualquer coisa. Não importa. Não importa mesmo nada. Tudo o que sei é que esta tarde vos imaginei e consequentemente imaginei-nos a todos nós, quando empurrei a vidraça da porta de um sujo e esconso prédio em Lisboa e deparei com uma lustrosa placa negra que tinha inscrito "Zenóglio Oliveira - Advogados". Este também deve ter passado maus bocados e era bonito que o inscrevêssemos no clube dos últimos. Até porque indiscutivelmente deve saber bem o que isso significa...
8 comentários:
A MOTIVACAO QUE ME TROUXE AQUI DEIXOU DE EXISTIR... GUERRAS ENTRE HACKERS PRODUZEM BESTAS... CONSCIENTEMENTE SOU UM DELES... PASSAR BEM
Tarde piaste, depois falam consigo.
Pj, obrigado, deu-me muito gozo escrevê-lo.
Raios que este também tive que ir ver:
Zenóbio - Vida dada por Deus (Grego)
Já agora, Zacarias (estava no mesmo site hehehe) - o lembrado por Deus (Hebraico)
E finalmente o que deu mais luta, Zenóglio (Ginocchio) - Joelho (Italiano), portanto podemos dizer que o Mantorras tem o zenóglio todo concubitum...
Ou melhor ainda:
Mantorras zenoglium concubinatus est
Pedro!
Mais uma para o livro.
Muito bom post. Parabéns.
Sem dúvida, os últimos são sempre os primeiros.'Cliches'à parte rapaz, agora para além de 'poeta', já podes dizer que és um 'poeta'com CAP!
PARABÉNS!
P.S.-E não te esqueças do 'desafio'!
NªSrªdo Cresce e Estica.Xi
Pedro,
Parabéns, gostei de ler e ouvir a Sua prosa na voz do Luís Gaspar. É um bonito tributo aos antigos amigos que entretanto perdeu o rasto.
Nas Páginas Amarelas, existe em Quarteira um J. V. Sousa Luis Zenobio, será ele um dos procurados condiscípulos?
Abraço
Manuel
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