26 fevereiro 2007

Os meus limites

Talvez esteja a ficar velho. Talvez com essa inevitabilidade eu esteja a perder capacidades, sendo que de algumas já dei pela respectiva perda, outras vou notando que se ausentam, umas temporarariamente, outras que vão e nunca mais voltam. A última ocorrência está relacionada com os limites da minha tolerância e paciência. Quem lida com grandes quantidades de público na área do consumo, vê testadas todos os dias as fronteiras do bom senso. É assim, é normal, e dá-nos uma vasta experiência de vida. Foi sempre assim na minha vida profissional e disso não me arrependo. Mas há momentos em que as coisas deixam os carris e se destrambelham. Como o caso de uma pessoa que telefonou muito perturbada pela urgência de uma compra de um produto que não encontrava. Dei-lhe as informações necessárias e orientei-o. Já estou habituado a não ter qualquer resposta nestas situações. A humana massa é feita de ingratidão, logo a mim me tocaria a compreensão do facto pois tenho para os meus botões que a ingratidão deveria ser o único pecado verdadeiramente mortal. Não precisaria de nenhum diploma ou certificado de reconhecimento oficial, um simples obrigado cumpria a função. Gosto de rever os que me contactam com emergências destas, faço questão de voltar a falar com as pessoas, até para que me certifique de que os seus problemas ficaram efectivamente resolvidos. Pois esta criatura fez-me saber que tinha feito a compra noutro lado que não o que lhe recomendei. É a vida, aceito-o com todo o fair-play. Mas tinha uma queixa para me apresentar, não ficou satisfeito com a compra que tinha feito noutro lado e voltou a contactar quem eu lhe tinha indicado. Ficou muito ofendido com o tratamento recebido pois propôs a quem lhe tinha indicado que lhe ficasse com o material comprado noutro lado "e a pessoa não aceitou, veja lá... Não pode fazer nada, Senhor Aniceto?".

Se de antanho me calava e resmungava para mim mesmo qualquer coisa, agora lembro-me de António Botto e não seria a primeira vez que daria comigo a declamar os primeiros versos de Inédito...

7 comentários:

kincas disse...

Eu também realmente começo a não ter paciência para pessoas desse "género".
O que me faz mais espécie é o aperceber-me do facto de que essas pessoas não conseguirem "atingir" o "problema" da situação.
Para elas não "passa nada". Está tudo na mais perfeita lógica e naturalidade. Isso é que me preocupa mais.
Mas afinal começo a ver que não sou só eu a quem isso acontece e que se "indigna".
É necessária muita calma e boa disposição.

Anónimo disse...

Há gente para tudo.
Dizem que o cliente tem sempre razão. Só que, no caso em apreço, a tal pessoa nem sequer é cliente.
Casos destes parecem ser cada vez mais frequentes. Começo a pensar que a culpa pode também ser de quem vende, que dá todas as facilidades, e apára todos os golpes e caprichos, só para vender.

Ana Ferreira disse...

Tens MESMO paciência de Job, eu tinha mandado logo àquela parte...

Anónimo disse...

Boas,
Antes de mais, é a primeira vez que me decido a "postar " neste blog.
Este episódio toucou-me profundamente e a resposta a esta gente reside no celebre ditado "não se deve dar pérolas a porcos", digo tocou-me porque no dia a dia tenho alguns destes ou ainda piores. Mas estas situações só são possiveis em portugal porque somos pessoas amaveis e simpaticas. Na nossa vizinha Espanha o tipo que vende diz logo é regra é esta e mais nada. O pessoal aqui arranja alternativas reduz custos e depois paga por ser assim. A tolerância é uma virtude...

Anónimo disse...

caro pedro, conheço bem a sensação, pois lido com gente dessa no meu dia a dia. Apesar de ser uma sensação dasagradavel e que me revolta, resolvi dar-lhes o que eles merecem de mim: o meu despreso. Que sejam felizes, pois o seu destino é triste e solitário.

Anónimo disse...

Conheci, há quase 20 anos, um refinado pasteleiro, fino e ratolas, sempre de respostas ágeis. A preferida dele era: aqui o cliente tem sempre razão, mais que não seja para levar com um pano encharcado na tromba. E não é que às vezes apetece?...

Armando Queiroz disse...

...é como que: ser bem formado não é o mesmo que ser bem educado; a formação dá-nos o tecnicismo para melhor sobrevivermos na sociedade. A educação dá-nos a possibilidade de melhor nos relacionarmos dentro desta. É como matemática, uns sabem outros não.