Momento narciso do dia

Não há como negar, nunca lidei bem com a minha própria imagem em termos fotográficos. Desde menino que abomino as tomadas de imagem em pose, um ar "natural" sob encomenda é coisa que não conseguirei jamais ter. Travo lutas aguerridas com editores, jornalistas e outras pessoas que me pedem fotografias para ilustrar artigos, e usei durante anos uma mesma imagem "oficial" porque de todas as imagens que possuo, essa era aquela que achava menos artificial. Desde o início desta semana, pressionado uma vez mais por um director de uma publicação que requeria com urgência uma foto decente em alta resolução, que pensava em como resolver o problema. Hoje, num ápice, recorri ao Mestre Homem Cardoso, profissional emérito de fotografia, artista de primeiríssima água, a quem aliás se deve a autoria do retrato da Daniela, já publicado nestas páginas. À beira de celebrar os 40 anos da sua carreira (a essa data dedicarei oportunamente um post), informei o António do meu problema. Não apenas de um problema, mas de mais, que ele não sabia da minha inabilidade intrínseca para ser fotografado. Para ele a pose rígida, o ar de quem está a ser torturado pela luz, não são propriamente um problema e quando, ao fim de cinco minutos o ouvi dizer "já está!", fiquei descansado. O set de fotos por ele escolhido fornecerá todos os pedidos dos próximos anos. Ao fim de quarenta e três anos, gostei de me ver fotografado.

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