10 agosto 2007

Etnicidades

Os espanhóis brincam com Leppe, cidade do sul de Espanha, quando querem acintosamente referir-se a algo que se faça muito devagar. Os portugueses elegeram o Alentejo para o mesmo efeito. Em todo o mundo cada região tem o seu ódio de estimação. Os franceses têm os belgas, o princípio prático é exactamente o mesmo que leva os brasileiros a fazerem humor com os seus irmãos portugueses. Mas Portugal tem uma característica única nesta matéria. Enquanto os continentais apelidam injustamente os alentejanos de "lentos", na Madeira os escolhidos são os "Profetas", como são designados os naturais da ilha de Porto Santo. Desconheço a origem da designação "Profetas" (esclarecimentos são sempre bem-vindos) mas não pude hoje deixar de sorrir quando li num email uma frase que dizia "Esta máquina está mais lenta que um caracol alentejano filho de caracóis portosantenses...".

Nota: Durante anos tive um cliente em Borba no Alentejo que me forneceu dúzias das melhores piadas pró-alentejanas de que tenho memória. Nunca me esquecerei do que me ri quando ele, no seu falar tão genuíno me perguntou "Xôr Aniceto, o mê amigo por acaso sabi o que fazem oito alentejanos olhando fixamente nos olhos de um lisboeta?". Se o leitor não sabe, consulte a caixa de comentários deste post.

Também usa os simpáticos gastrópedes o melhor insulto que alguma vez escutei num estádio de futebol. Irado com o árbitro, um adepto benfiquista desceu as escadas até junto da vedação, esperando a saída do juiz da partida, que brindou com o grito "Tens mais cornos que uma travessa de caracóis!"

7 comentários:

Pedro Aniceto disse...

Atão? Tá-se mêmo a vêri! É o Grupo de Forcados Amadores de Estremoz...

kincas disse...

Ana chamada à recepção.

Ana Ferreira disse...

Os portosantenses ficaram célebres, e ainda hoje são designados, por vezes de forma pejorativa, de profetas. O epíteto tem origem, remota, no aparecimento em 1533 de um falso profeta, Fernão Bravo, num momento em que as principais autoridades estavam ausentes da ilha.
Fernão Bravo, pastor para os lados do Farrobo, teve uma crise mística e desceu à vila apontando os pecados da sociedade e levando o povo a um excesso de fanatismo religioso por 18 dias. A chegada a 6 de Fevereiro do corregedor afugentou o profeta e a devassa que fez, até 3 de Março, levou à prisão dos principais autores e de alguns coniventes como o clero. Como resultado disso os implicados no caso tiveram que expor-se à porta da Sé de Évora com o círio aceso e um cartaz com os dizeres - Profeta do Porto Santo, enquanto os moradores tiveram que contribuir com um donativo para os melhoramentos locais.
Numa terra martirizada pela natureza e pelo homem o aparecimento de alguém assumindo-se como o Messias de uma nova realidade, não difcil recrutar adeptos. Difcil é convencer o clero, mas até isso foi conseguido, ainda que por algum tempo.
in http://www.ceha-madeira.net/avieira/html/porto_santo.html

Anónimo disse...

Ó Pedro... a resposta é mesmo uma pega de caras! O Grupo de Forcados é indiferente. Pode ser o de Montemor, Évora ou São Manços, se bem que sendo o de São Manços abre um novo leque de graçolas conhecidas.

Pedro Aniceto disse...

A variação "São Manços" é de facto um manancial...

Pedro Aniceto disse...

Obrigado pelo esclarecimento. Estava aqui cheio de vontade de mandar umas piadas sobre o "homem providencial", mas vou conter-me...
Ainda assim, e depois de ler "Numa terra martirizada pela natureza e pelo homem o aparecimento de alguém assumindo-se como o Messias de uma nova realidade, não difcil recrutar adeptos." percebo que a história se repete.

Anónimo disse...

Caro Pedro,
Directamente de Porto Santo a explicação da Ana Ferrreira é confirmada pelos nativos, apenas diverge no pormenor de o dito falso Profeta ter origem no pároco da altura que após uns copos do Vinho do Porto Santo e uns shots de Poncha se descaia com os pormenores que tinham sido deixados á sua confidencia em Confissão. Ai o alcool ..... hehehe.