Dá-me uma Sagres, por favor? é o que escuto do meu vizinho do lado enquanto tomo café ao balcão da cafetaria do hipermercado. A partir dali refugiei-me na chávena, apenas os olhos e o nariz de fora a tentar descodificar o que diabo era aquela estranha movimentação suspensa do lado de dentro do mono de vidro. Algo se passava, e nem sendo comigo presto-lhe mais atenção, coisas da minha vidinha de despassarado consumidor. As funcionárias, duas, quando não não tinha usado plural, é bom que esteja o leitor atento a estes artificios da escrita, cruzavam elas também olhares suspeitos, que diabo, o homem só tinha pedido uma cerveja. Há uma porta de balcão que se abre e sai de lá aquele som do ar a penetrar no vácuo, frio, penso eu, que o vácuo não deve ter temperatura e só na minha pobre cabeça é que o ar fará barulho ao entrar num frigorífico. Plaft, a porta fecha-se, esmagando as borrachas e aprisionando lá dentro mais uma golfada quem sabe se do mesmo ar que veio cá fora aquecer-se um nadinha. A garrafa na mão, ligeiramente suada, a garrafa, talvez também a mão que o turno já deve ir longo, nunca perlada, as garrafas só estão perladas nos anúncios o que nos faz crer que as cervejas que se anunciam são realmente boas. Sim, que eu gosto delas, as cervejas, estupidamente geladas, se não perladas, bem frias. Não era claramente o caso daquela Sagres que se preparava para entregar a gola ao cutelo, isto é, ser descaricada, verbo imbecil este do descaricar, seria pior no Porto onde dizem sameira e eu não conheço nenhum verbo que permita dessameirizar. Estávamos todos nós nisto, digo nós e digo bem, eu, o vizinho que tinha sede, as duas funcionárias que trocavam olhares suspeitos quando lhes pedem uma cerveja e o meu nariz e os meus olhos que permaneciam fora da chávena, sem café fazia já muito tempo, apenas boiando nos bordos da branca cerâmica à espera de perceber o que se passava. Os olhares cruzados, a aflição da mais nova como que a querer dizer algo à outra, anda lá despacha-te dá a cerveja ao senhor que está farto de estar à espera e ela a fazer-lhe boquinhas, como que a mastigar o ar, o mesmo ar que a mim já me falta de tanta espera e suspense. "Não há copos...". "Como não há copos?". "Não há copos...". "Ah! Pois é! Não há copos!" como se tivesse tido uma revelação divina. "Só se for um de plástico...". "Peço-lhe desculpa, mas vai ter de ser de plástico...". O homem, impávido, meteu o gargalo da garrafa à boca e deixou correr o louro líquido de um só trago, que a mim quase me criou um embrulho esofágico. Depois, olimpicamente arrotou de modo alarve e num golpe seco bateu a garrafa no tampo de vidro e virou costas sem uma palavra.
01 setembro 2007
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12 comentários:
Coitada!
A rapariga sentia que o "costumer care" estava longe de ser cumprido.
Tenho a impressão que embirra com o Porto é a segunda vez que o apanho a dizer mal do Porto.
So falta dizer que o gajo que arrotou, diz sameira e não pagou a cerveja,(não há menções ao acto do pagamento) é do Porto, pior ainda vc insinua que é do FCP, porque diz que o gajo bateu com a garrafa no balcão.
Só pergunto é o seguinte. um gajo que não gosta do Porto, nem FCP, o que é que está a fazer numa tasca do Porto ?
É so para dizer que os nossos frigoríficos aqui no Porto são uma merda e fazem Plaft ao abrir a
porta é ?
É por isso que eu embirro com os gajos do Benfica, provocadores.
Excelente texto!
Aconteceu-me coisa rara que foi visualizar, na totalidade, todo o drama.
Se o homem, quiçá algum segurança da noite do Porto, tivesse pedido uma SuperBock seria com certeza locupletado com um excelente copo de vidro, também ele, retirado do congelador (plaft, era horizontal) totalmente decorado com a excelente publicidade da marca.
Boa malha Pedro!
..."Tenho a impressão que embirra com o Porto é a segunda vez que o apanho a dizer mal do Porto."...
Pedro Silva, por favor verifique o nível do toner porque as suas impressões estão um bocadinho maradas. Não sei em que ponto, em que texto, em que nuvem encontra o que quer que seja a dizer "mal do Porto", mas estou certo que a todos nos elucidará.
Nada como uma bocadinho de rudeza para para mostrar a diferença entre um tipo normal e um homem de barba rija. Desculpa, Pedro, acho que vais ficar mesmo como "tipo normal".
Bem, e a conversa do sr. Pedro Silva parece-me um bocado mania da perseguição. Ou se calhar é mesmo só impressão minha.
Por acaso li o que vc disse ontem no blogue do Funes el memoriosos.
E já´li por aqui graçolas sobre o Porto e o FCP eu depois mostro-lhe
Pedro, ou você tem uma imaginação prodigiosa ou uma mania da perseguição qualquer para a qual não tenho a mínima paciência. Qualquer graçola minha será SEMPRE civilizada e capaz de ser contada à mais insuspeita pessoa, pode ser até a minha mãe. Quem o ler, caso não me conheça, poderá pensar que eu não tenho a inteligência de rir de mim próprio, do meu clube ou de outras coisas surreais que me entram porta dentro. Se embirra com tipos do Benfica (é um direito que lhe assiste), arranje um alvo que lhe dê mais luta, é encarnado na mesma e estão habituados a que marrem neles. Se me toma por provocador, está enganado, redondamente enganado. Até era capaz de lhe escrever isto sentado na esplanada do Madureira, carago! Se nada disto funcionar, Alka Seltzer...
Pedro, uma sugestão:
Podias talvez aproveitar os textos do Políbio, com umas ligeiras correcções... em vez de Portugal, escreves Porto, e alteras a quantidade de viagens e janela temporal. Assim fazes a vontade aos teus leitores, fica toda a gente contente, e o pessoal daqui de cima já te pode insultar mais condignamente.
Carago!
PS: algum Benfiquista residente na região da Invicta (!) por motivos profissionais ou de doença, se voluntaria para preencher o lugar de Embaixador e preparar uma resposta educada e bem fundamentada?
O drama, Filipe, é que eu vou mais vezes ao Porto que o Políbio! E não, não estou constipado e não me apetece constipar-me de propósito só para dizer mal do Porto.
"vc insinua que é do FCP, porque diz que o gajo bateu com a garrafa no balcão"
!?!?! Como...?!?!? Importa-se de repetir...?
Ah...
Ó Pedro, espera aí que vou ali poisar a minha garrafa com cuidado em cima do balcão...
Sera que eu bato com a garrafa no balcao e nunca me apercebi?!...
Ó Pedro Silva olhe que o Concurso para "O Pior Postal do Verão" não é aqui..!!
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