15 novembro 2007
The Mall
Passei três anos da minha vida enfiado num Centro Comercial. Ritmos triturantes, sem que se veja o sol na maior parte das vezes, poucas ou nenhumas pausas, apenas tempo para afivelar e desafivelar um sorriso para o recém chegado cliente. Não me deixou nenhuma saudade essa vida de rapariguinha de shopping. Não importa se se é um simples funcionário ou o dono da loja, o ar parece mastigar-se, as caras do circuito são sempre as mesmas. As rotinas. Os sítios. Até a bica parece saber a papel ao fim de algumas semanas. Mede-se o tempo pela decoração nos corredores. "Olha, este ano o azevinho é lilás...". Temos decalcadas nas sinapses as notas musicais da estação, treme-se aos primeiros acordes de Me and my drum. A mecanização, com mais ou menos make up toma conta de nós num fósforo. Reconhecem-se números e não os nomes. "A da 1.26 está cada vez mais gorda" ou "Há gente nova nos vitrinistas da 2.34". Não há marcas, há andares e pontos de venda. No dia em que fechei a porta da loja pela última vez prometi a mim próprio tentar escapar à lógica da roda de rato que é um Shopping Center. Fujo deles como Mafoma do toucinho, ou Pádua do colesterol. E tenho conseguido manter-me distante, até como consumidor. Quando hoje percorri alguns corredores à hora do fecho de um grandioso centro da Margem Sul reconheci-lhes o esgar das vinte e três horas. A náusea escondida atrás do sorriso amarelo. "Boa noite, posso ajudar em alguma coisa?"
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Faits Divers
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7 comentários:
Belo texto, Pedro. Um cenário assustador e muito verdadeiro: mais uns écrans de big brother nas paredes e estamos iguais ao que o Orwell temia.
esqueceste-te de falar da sucursal daquela tabacaria das mocitas decotada que era a do 1.14....
Pedro: Estás a referir-te ao centro comercial na Av. Júlio Dinis? aquele tipo "cova funda"?
Bolas! Desse nem me quero lembrar...
Seria o que ficava perto do Júlio de Matos?
SOCORRO! A minha vida está cheia de Centros Comerciais!
:)
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