26 novembro 2007

Quando um homem se levanta

Antigamente gostava-se mais de trabalhar do que hoje em dia, dizia-me ele, enquanto ambos nos encostávamos uma vez mais no muro caiado refulgente de um branco emprestado pelo sol de Outono. Esperávamos ambos pela mesma pessoa, embora por motivos diferentes, estamos ambos dependentes de um mecânico, Messias de seu nome e condição conjuntural. Antigamente reparavam-se peças, agora mais não fazem mais do que dizer que tem de levar novo. É por isso que o mundo não anda para a frente, sabe? Por causa destes gatunos. Tenho aqui um carro com quarenta anos e cada vez é mais difícil arranjar-lhe peças. Eles bem querem que eu compre um novo, mas isto agora é só sucata. Trouxe-a de muito longe, sabe? Olhei para a velhíssima Bedford de volante à direita e tentei adivinhar-lhe a questão. "Veio da África do Sul?". Olhou-me espantado, sem saber que ajudei em tempos a despachar a papelada de muitas. O amigo sabe... Trouxe três, uma ficou com o meu irmão que deu cabo dela em três penadas. Foi para a sucata há vinte anos, a outra foi para o Algarve e não sei dela. "Podia ter aproveitado a sucata para peças, agora não andaria atrás delas...". Amigo, um homem só se levanta depois de cair, disse-me ele enquanto afagava o azul da chapa repintada da Bedford. Foi uma das coisas mais sábias que me disseram esta semana. E ainda hoje é Segunda Feira...

1 comentário:

Anónimo disse...

"Amigo, um homem só se levanta depois de cair"

Actualmente são mais os que caiem, do que os que se levantam.