Ti Jaquim Fonseca, o homem que não conheço e que muito provavelmente não virei a conhecer, nunca digas desta água não beberei, não vá acometerem-te as securas, e um homem não sendo de ferro pode por via das malas artes vir eventualmente a oxidar. Queixava-me eu esta manhã, enquanto assassinava o dejejum (palavra mais bonita ainda, se dita por um viseense...) que não gosto de falar ao telefone enquanto como. Não apenas porque não é bonito mas por razão de outro fenómeno que há anos me acontece e que passarei a explicar caso tenhais a paciência de me ler, se tiverdes pressa ide às vossas vidinhas que à volta cá te espero, outra expressão popular e singela, sobeja e bastas vezes acompanhada do brejeiro que ainda me aqui agarras, esta não tão bela mas nem por isso menos usada frase. Dizia eu, antes de me perder no léxico popular, que não gosto de falar ao telefone enquanto como, não que eu deixe quem está do lado de lá cheio de migalhas (acontece muito com folhados de salsicha), mas pelo simples facto de não me lembrar de que já comi quando largo o telefone. Sim, eu sei, é parvo o conceito, mas você também aqui não está porque eu diga coisas racionais e inteligentes, divertimo-nos sempre bastante mais com a alheia desgraça e não gostamos de chacotas em causa própria. Esta manhã sucedeu-me isso, alguém me ligou quando eu me preparava para trincar um folhado de carne, tchac!, Olá Artur, se posso falar agora?, claro que não pensei eu, estou a comer, mas como ontem já te sucedeu o mesmo e não pude falar contigo, diz lá ao que vens e ele disse, disse tudo o que tinha para dizer, aqui e ali eu ia dizendo qualquer coisinha para dar seguimento à conversa, dentada aqui, dentada ali, gaita que o gajo aqueceu demais o folhado, enquanto Artur falava eu ia apagando o fogo interior, mais um golo de café, não é fácil um homem fazer malabarismos manuais e mentais enquanto tem alguém pendurado numa orelha e tem de lhe dar atenção ao mesmíssimo tempo que profere impropérios, sopra para dentro e bebe café. A verdade verdadinha é que conversa acabada eu não me lembro de ter comido, é como se não tivesse engolido, faz-me confusão ser assim, mas sou eu mesmo, assinalo a linha constante, não há que negar, sigamos para Bingo.
Queixava-me eu desta singularidade e perguntava-me se deveria comer de novo, uma vez que não me recordo de ter comido, coisa que de imediato me lembra o ditado "Quem não come por ter comido...", quando me contaram a história de Ti Jaquim Fonseca, o homem que não conheço e que provavelmente não virei a conhecer. Sucede, (devo ter a veia das banalidades bem aberta, hoje), sucede, acontece, dá-se o caso que Ti Jaquim Fonseca, assalariado de jornas de sol a sol, que ainda os há, emérito cavador de leiras e arrancador de batata quando é da época, é um homem velho mas que ainda pede meças aos seus pares. Adepto da enxada e da dura vida rural, Ti Jaquim Fonseca tem um problema de apetite, parece que apesar da idade o homem tem um apetite de cavalo e quando se senta à mesa é tipo para barbear uma travessa de cozido que daria para as festas nupciais de um casamento no Darfour com mais de cem convidados. Mas não teria esta história toda a lógica e envolvência se Ti Jaquim Fonseca, depois de aviar a travessa e umas grossas fatias de casqueiro, devidamente ensopadas em tinto regional, sim que todos os tintos são regionais, não fosse tomado pela mesma problemática que me acontece. Ti Jaquim Fonseca. mal acaba de comer, é tomado por um sono a que não consegue resistir e tomba adormecido mesmo ali, cotovelos fincados na mesa, queixais colados às mãos para dar estabilidade à coisa.
In illo tempore, Ti Jaquim Fonseca esquece-se que já comeu, Santo Cristo como é possível, mas é, por graça a sua esposa já fez a experiência, enquanto Ti Jaquim Fonseca está no primeiro sono, ela retira da mesa prato e travessa, repõe prato limpo, vinho e pão como se ainda fosse servir a primeira dose... É quando Ti Jaquim Fonseca desperta que rompem as gargalhadas dos que à cena já tiveram o privilégio de assistir, quando ainda zonzo da sua ausência, olha para a mesa e diz em voz poderosa: "Oh Maria, mas esse almoço vem ou não vem?"
Queixava-me eu desta singularidade e perguntava-me se deveria comer de novo, uma vez que não me recordo de ter comido, coisa que de imediato me lembra o ditado "Quem não come por ter comido...", quando me contaram a história de Ti Jaquim Fonseca, o homem que não conheço e que provavelmente não virei a conhecer. Sucede, (devo ter a veia das banalidades bem aberta, hoje), sucede, acontece, dá-se o caso que Ti Jaquim Fonseca, assalariado de jornas de sol a sol, que ainda os há, emérito cavador de leiras e arrancador de batata quando é da época, é um homem velho mas que ainda pede meças aos seus pares. Adepto da enxada e da dura vida rural, Ti Jaquim Fonseca tem um problema de apetite, parece que apesar da idade o homem tem um apetite de cavalo e quando se senta à mesa é tipo para barbear uma travessa de cozido que daria para as festas nupciais de um casamento no Darfour com mais de cem convidados. Mas não teria esta história toda a lógica e envolvência se Ti Jaquim Fonseca, depois de aviar a travessa e umas grossas fatias de casqueiro, devidamente ensopadas em tinto regional, sim que todos os tintos são regionais, não fosse tomado pela mesma problemática que me acontece. Ti Jaquim Fonseca. mal acaba de comer, é tomado por um sono a que não consegue resistir e tomba adormecido mesmo ali, cotovelos fincados na mesa, queixais colados às mãos para dar estabilidade à coisa.
In illo tempore, Ti Jaquim Fonseca esquece-se que já comeu, Santo Cristo como é possível, mas é, por graça a sua esposa já fez a experiência, enquanto Ti Jaquim Fonseca está no primeiro sono, ela retira da mesa prato e travessa, repõe prato limpo, vinho e pão como se ainda fosse servir a primeira dose... É quando Ti Jaquim Fonseca desperta que rompem as gargalhadas dos que à cena já tiveram o privilégio de assistir, quando ainda zonzo da sua ausência, olha para a mesa e diz em voz poderosa: "Oh Maria, mas esse almoço vem ou não vem?"
2 comentários:
Foste cuscado!
Mais um belo exercício. Apesar de não andares a treinar muito por aqui, não lhe perdes o jeito!
(ah, falta um l ao illo :) )
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