Ontem perguntaram-me "Qual foi a tua melhor apresentação de sempre?". Sorri. Curiosamente a minha melhor apresentação de sempre foi uma que em condições normais não gosto de recordar, nem sequer conto com ela nas minhas listas de "Best of". Uma introdução de produto numa grande, grande empresa internacional, que até prometia bastante, feita numa sala de reuniões em que seis tipos muito cinzentinhos alinhavam as canetas, as folhas e os clips como se estivessem numa aula de geometria. O meu drama é que fui convocado para essa reunião/apresentação muito em cima da hora. Demasiado em cima da hora. Tão em cima da hora que me era impossível não comparecer ao almoço de aniversário de um grande amigo que decorria precisamente duas horas antes, em que, contrariamente ao que me é habitual, terei passado um pouco além da minha marca de ingestão de álcool. Nada de especial, não tenho por uso (ao contrário de muito CEO com quem tenho de conversar depois de almoço) de assistir alcoolizado a reuniões de trabalho. Pensei para comigo que me bastaria entrar mudo e sair calado mas nem tudo corre por vezes como prometemos a nós mesmos... Se há coisa que me faz saltar a válvula de pressão é que um tipo ou um organismo que quer ouvir falar do produto que represento me comece por falar mal dele. Aconteceu. Ouvi, durante alguns minutos, uma barragem de críticas ferozes e com a minha adrenalina aos saltos, não me consegui calar. Aprendi faz tempo com belos mestres, que não há nenhuma lei que me obrigue a estar sentado numa sala de reuniões. Ajuda-me a não adormecer e provoca um efeito dramático na actuação, intimidando quem permanece sentado (sim, já estudei o assunto e quem se levanta primeiro tem uma enorme vantagem porque mais ninguém o faz...). Lembro-me pouco desse discurso. Sei que falei como uma metralhadora e que por norma o faço no tom de voz que me deu o ADN que é bastante acima do nível normal. Quando caí em mim olhei para o relógio e percebi que esgrimia argumentos há quase trinta minutos. Levado pela euforia que já trazia dissimulada no sangue observei um por um os meus anfitriões de olhos pregados nos meus gestos (sim, eu falo deveras com as mãos). Achei que estavam nas cordas. Talvez não fossem eles. Talvez fosse eu que já estava nas cordas, principalmente quando percebi o que acabara de fazer. Dramaticamente e de forma estudada, elevei ainda mais o tom de voz e proferi a frase final: "E não sei se depois disto ainda restarão dúvidas!". Geraram-se alguns segundos de silêncio enquanto eu arrumava as minhas notas batendo o montinho de folhas A4. Como a primeira frase que me dirigem depois de uma longa exposição costuma ser reveladora dos resultados atingidos, fiquei expectante. O representante da corporação que nos recebera inspirou profunda e sonoramente e a primeira coisa que disse foi "Dasss, onde é que eu assino?". Lembro-me de ter pensado "Tenho que experimentar isto mais vezes" mas nunca mais tive coragem de o fazer naquelas condições.
Há poucos dias sucedeu-me uma situação de reunião, previamente estudada na base do "Good cop/Bad cop". Repeti quase de forma decalcada a marcação dramática e os resultados afiguram-se positivos. A primeira frase de quem me escutava foi algo como "Gosto de o ver defender o seu produto como se ele fosse seu filho". Mas eram dez da manhã, eu não estava sob a influência de nenhuma substância e tudo fora previamente estudado em pormenor. Não tem o mesmo sabor...
Há poucos dias sucedeu-me uma situação de reunião, previamente estudada na base do "Good cop/Bad cop". Repeti quase de forma decalcada a marcação dramática e os resultados afiguram-se positivos. A primeira frase de quem me escutava foi algo como "Gosto de o ver defender o seu produto como se ele fosse seu filho". Mas eram dez da manhã, eu não estava sob a influência de nenhuma substância e tudo fora previamente estudado em pormenor. Não tem o mesmo sabor...
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